No ruído constante da solidão, o que apavora não é mais a falta de conexão
Vivemos cercados. Nunca foi tão fácil enviar uma mensagem, ouvir uma voz, ver um rosto do outro lado do planeta em tempo real. Mas a solidão, paradoxalmente, parece ter ganhado espessura. É como se estivéssemos sempre em rede, mas raramente em vínculo. O acesso aumentou, mas o afeto rareou. A pergunta que se impõe é delicada e desconcertante: o que estamos perdendo no meio de tanta disponibilidade?
A resposta talvez esteja menos na ausência de outros e mais na qualidade das presenças. Ter alguém que responde não é o mesmo que ter alguém que escuta. A escuta, ao contrário da resposta, exige silêncio interno, disposição para ser tocado, um abandono do próprio roteiro por instantes. É aí que a psicologia sussurra algo essencial: a solidão não vem do vazio ao redor, mas do não reconhecimento de existir ao lado de quem não nos vê.
A psicanálise, por sua vez, acrescenta uma camada mais profunda: estar só também é um processo interno. Há uma solidão que nasce da falta de escuta de si mesmo, do afastamento da própria verdade. E essa verdade, hoje, é facilmente abafada pelo barulho externo. Os fones de ouvido, as timelines infinitas, os áudios que se atropelam, tudo isso pode servir tanto de conexão quanto de anestesia. Conectamo-nos, muitas vezes, para não sentir.
Mas o afeto verdadeiro exige pausa. Uma escuta sem intenção de resposta. Um olhar sem julgamento. Um tempo sem produtividade. E talvez seja justamente isso que o nosso tempo recuse: a espera, o intervalo, a não urgência. A solidão dos conectados não nasce da tecnologia, mas da lógica de desempenho que aplicamos até nos afetos. Queremos estar juntos, mas sem perder tempo. E vínculos, por definição, levam tempo.
Talvez por isso tanta gente esteja gritando em silêncio, mesmo cercada de gente. Porque não falta conexão: falta encontro. E encontro, ao contrário do clique, é sempre uma experiência de risco: pode doer, pode transformar, pode não ser recíproco. Mas quando é, mesmo que por instantes, desfaz o exílio. E nos devolve à experiência mais humana de todas: sermos escutados, para então podermos existir.

Vocês são demais os melhores da tv
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