Hélio Negão tenta reeditar o acampamento do 8 de janeiro em verão solo, mas a polícia agiu antes que desse tempo de ferver a água do miojo
Era uma vez um parlamentar que achou que podia reviver a epopeia das barracas golpistas do 8 de janeiro, só que sem o fator surpresa e sem a paciência do Estado. Hélio Negão, fiel escudeiro do ex-presidente Jair Bolsonaro, resolveu montar sua tenda, literalmente, na Praça dos Três Poderes. Isso mesmo. Sol a pino, lona azul, pose de resistência e o peito inflado de coragem… ou de alguma outra substância semelhante. Fato é que o deputado acampou como se a história recente do país tivesse sido apenas um delírio coletivo. E, claro, em menos de 24 horas, a realidade chegou com um sonoro: desmonta isso aí, meu senhor.
A ousadia de se aplaudir não é pela coragem do biscoito , mas pela desfaçatez teatral. Após os acampamentos golpistas de janeiro de 2023, que terminaram com prisões, condenações e vergonha internacional, montar uma barraca naquele mesmo chão tem quase o mesmo bom senso de acender um cigarro dentro de um posto de gasolina. O problema não é nem discordar de um sistema. O problema é achar que lona, fita adesiva e uma caneca de alumínio são símbolos revolucionários.
Mas é preciso reconhecer que o Brasil é mesmo o país do entretenimento involuntário. O deputado acampado falava com a imprensa como se estivesse no Jalapão, testando sua resiliência no Discovery Channel. Faltou só o filtro solar fator 50 e uma placa: Reality Show: O Último Patriota. Não deu tempo nem de reunir os amigos imaginários da causa. A Polícia Legislativa, agora vacinada contra delírios patrióticos com sabor de guerra fria, agiu rápido. O herói da vez teve que sair sem nem dormir no colchão inflável.
O mais impressionante é a fé inabalável de que os símbolos de um passado que aconteceu ontem possa ser reciclado como se nada tivesse acontecido. Mas o Brasil, embora tenha memória curta, não chegou ainda ao ponto de transformar tentativa de golpe de ontem em arraial democrático. Uma barraca hoje é só isso: uma barraca. Sem multidão, sem clamor, sem blindagem institucional. Só um parlamentar com saudades de um tempo que acabou, e que nem foi tão glorioso assim.
E assim, com sol na testa e lona no ombro, lá foi Hélio Negão, devolvido à sua rotina de vídeos inflamados e promessas de um Brasil que só existe em holograma. Fica a lição: camping político, só com os amigos, numa fogueira, um vinho e um violão. E das boas. Mas cuidado: rir muito pode pegar mal para quem ainda acredita na seriedade do acampamento solo. Ou pior: que em uma semana outras barracas formassem um segundo oito de janeiro.

Eu sempre gostei muito de vc mas de uns tempos pra cá começou a colocar política no meio de seus comentários ( independente que lado fosse ) e perdi o interesse pela sua página. Sei que não vai fazer diferença nenhuma pra vc, mas eu precisa falar isso em nome do respeito que tenho por vc. Fique com Deus!