Vestir-se de dentro para fora

Você acredita que a roupa que te veste pode transformar o seu estado de espírito durante todo o dia? Mês? Anos? Pela vida toda.

A moda sempre foi vista como espelho da sociedade, mas talvez esteja na hora de reconhecê-la também como espelho da alma. Eu sempre gostei de ver e acompanhar, silenciosamente, pessoas que não buscam impressionar pelo excesso. Roupas que não gritam, mas abraçam; cores que não impõem, mas convidam; tecidos que não aprisionam, mas respiram junto com o corpo. Já que se fala tanto atualmente em saúde emocional, poderíamos começar a falar que devemos vestir também somente o que reflita o nosso bem-estar psicológico.

As cores influenciam nosso humor, as texturas evocam memórias táteis e o caimento de uma peça pode determinar se nos sentimos livres ou contidos. A estética alegre e acolhedora não é ingenuidade cromática, como aponta Marco Aurélio, personagem de Alexandre Nero, em Vale Tudo. Mas um ato consciente de cuidado consigo mesmo. Com sua própria personalidade. É o oposto da roupa que veste apenas para ser vista; aqui, a roupa veste para ser sentida. E, no mundo atual, onde a ansiedade se tornou uniforme invisível, escolher peças que emanam leveza pode ser uma pequena revolução íntima.

Mas essa tendência também é política, ainda que de forma sutil. Ao optar por vestir algo que nos traz conforto e serenidade, questionamos um mercado que insiste em associar moda ao sofrimento, seja pela imposição de padrões inalcançáveis, seja pela ideia de que beleza exige sacrifício. É uma escolha que redefine poder: não o poder de intimidar, mas o poder de pertencer a si mesmo. Nesse sentido, a moda que promove bem-estar psicológico não é fuga da realidade, nem disciplina de quartel. Está tudo errado!

Talvez a chave esteja em reaprender a nos perguntar, diante do espelho: “Isso me faz bem?” e não apenas “Isso está na moda?” Quando a resposta é positiva na primeira pergunta, o reflexo muda; não porque a peça segue uma tendência, mas porque ela se alinha ao que o corpo e a mente precisam naquele momento. É vestir a si mesmo antes de vestir a opinião dos outros.

Se a roupa que escolhemos de manhã é o primeiro abraço que damos em nós mesmos, então vale a pena torná-lo macio, luminoso e verdadeiro.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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