Presidente do PL tentou se proteger no jogo das palavras, mas entregou aquilo que a ciência política e o caráter já ensina: planejar um golpe é um golpe. Até porque, se tivesse se consumado, seria impossível punir.
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, declarou à imprensa que houve sim um planejamento de golpe no Brasil, mas, em seu malabarismo verbal, tentou vender a versão cínica e safada de que planejar um golpe não equivale a consumá-lo. Essa declaração, além de criminosa, é reveladora: não há golpe sem planejamento, e reconhecer que ele existiu já é reconhecer a materialidade do crime. Sob a luz da razão para quem tem um cérebro em perfeito funcionamento, planejar um golpe é o ato inaugural da tentativa de usurpar a democracia, porque sem a preparação jamais se poderia chegar ao ato final.
O argumento de Valdemar cai por terra quando lembramos o óbvio: se o golpe tivesse sido consumado, não haveria sequer Congresso, Judiciário para julgar ou imprensa livre para denunciá-lo. É exatamente porque as instituições agiram a tempo que hoje é possível investigar, apurar e responsabilizar. Golpes não deixam rastros para punição posterior, apenas ruínas institucionais. Logo, o planejamento em si já é criminoso, e é nesse ponto que a confissão cínica, safada e criminosa de Valdemar expõe sua própria contradição.
O Código Penal brasileiro é claro ao tratar da tentativa e da conspiração: o crime não se limita ao ato final, mas também ao preparo, à articulação, à intenção organizada. É por isso que o planejamento de um golpe não é um “ensaio” inofensivo, como tenta sugerir na safadeza o Valdemar, mas sim a concretização de um projeto antidemocrático que já começa no papel e se torna punível justamente por não ter sido levado a termo. Só não avançou porque houve contenção institucional, não porque faltou desejo de consumá-lo.
Diante dessa confissão pública, é imprescindível que a Polícia Federal vá além. Celulares, computadores e comunicações de Valdemar precisam ser periciados com urgência, porque um presidente de partido que ora nega, ora admite, já demonstrou não ter duas caras, mas mil. O Brasil precisa compreender até onde Valdemar Costa Neto esteve alinhado às tentativas de ruptura, porque a omissão diante dessa contradição seria premiar a impunidade. O mínimo que se espera é investigação séria, profunda e transparente.
Não é de hoje que Valdemar Costa Neto se apresenta como guardião da moralidade. Mas o histórico fala mais alto: foi condenado e preso no escândalo do Mensalão, e agora volta ao noticiário, não mais pela corrupção financeira, mas pelo flerte aberto com o golpismo. A diferença é que, desta vez, a democracia brasileira não pode correr o risco de ser complacente. Planejar um golpe é um golpe, e não há semântica que apague essa verdade.
