Uma caixa de Toddynho e o terror

Menina de 8 anos é espancada pelo pai por beber achocolatado sem permissão; agressões incluíram chinelo, cinto e fio elétrico

Não é sobre um achocolatado. Nunca foi. É sobre uma infância interrompida pela brutalidade. Uma menina de apenas 8 anos foi agredida pelo próprio pai por ter tomado um “Toddynho” sem pedir. Chinelo, cinto e cabo de fio: essas foram as ferramentas da covardia contra uma criança que, no máximo, fez algo como qualquer criança: vontade de tomar algo doce.

O caso, que chegou às autoridades através do relato da mãe, choca, revolta e escancara o que muitos ainda fingem não ver: a cultura da violência dentro de casa, que escondem atrás da palavra discplina. O que deveria ser um lar vira campo de guerra. O que deveria ser proteção, vira punição. E o que deveria ser amor, se transforma em trauma que pode durar a vida inteira.

É inaceitável que, em pleno 2025, ainda haja quem veja esse tipo de agressão como “educação”. Bater em uma criança com cinto, chinelo ou fio elétrico é crime. É tortura. E mais do que isso: é desumanidade. A infância é um direito garantido, e qualquer adulto que se julgue no poder de destruí-la com pancadas precisa ser responsabilizado, sem hesitação.

Não existe desculpa. O autor dessa violência não é vítima do estresse, da criação que teve, ou da sociedade. Ele é agente de uma escolha cruel: a de usar a força contra quem não pode se defender. A Justiça não pode tratar esse caso como uma “palmada fora de hora” ou um “excesso pontual”. É preciso dar à menina o que lhe foi tirado: segurança, dignidade e o direito de ser criança.

Que esse episódio sirva de alerta e de espelho. Quantas crianças estão sendo silenciadas atrás de portas fechadas, com gritos abafados por paredes coniventes? Quantas outras estão sendo punidas por agirem como crianças? É hora de parar de romantizar o castigo físico. O que essa menina precisava era de cuidado, não de violência. Precisava de colo, não de feridas.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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