Entre a toga e as seleções brasileiras de Basquete, o Brasil aprende que o jogo nunca termina no apito final
No plenário, a respiração parece medida, como se cada fôlego fosse passível de registro em ata. Palavras escolhidas, gestos contidos, olhares que atravessam, mas não tocam. A defesa final de um ex-presidente ecoa em frases que tentam se fixar na memória de um país inquieto, enquanto do lado de fora a vida corre sem protocolos, e a bola já está no ar.
Na quadra, o barulho é soberano. Calçados rangem no piso, o impacto da bola contra o chão vibra no peito, e cada ponto é um grito que não precisa de ata nem deliberação. Enquanto no Tribunal se discute quem moveu as peças do tabuleiro político, no ginásio o placar muda a cada segundo, lembrando que, no jogo real, ninguém espera pela vez: é preciso correr ou ser atropelado.
Há quem veja nas duas cenas um contraste absoluto: de um lado, o tempo lento e denso da Justiça; do outro, a velocidade feroz do esporte. Mas há também um fio invisível que costura as duas arenas: o desejo de vencer, a tensão entre estratégia e improviso, a torcida que nunca assiste de forma neutra. E que grita alto da arquibancada.
Talvez seja esse o retrato mais fiel do Brasil: um país que cabe tanto no silêncio calculado de um Tribunal inquieto, quanto no rugido de uma arquibancada. Onde cada decisão, seja no apito do juiz ou no clique de um botão eletrônico no plenário da Justiça carrega a energia de uma jogada decisiva. E se na quadra a bola pode cair para qualquer lado, no Tribunal, a decisão também é uma questão de destino.
No fim, entre o eco da última palavra dita e o som da rede sendo balançada, há apenas um instante de respiro. O suficiente para lembrar que, seja em toga ou em uniforme, ninguém joga sozinho.
