O “morango do amor” viralizou nas redes e apontou para um desejo coletivo de encantamento do cotidiano
Gente, na moral… Vamos falar! É quase revolucionário se comover com um morango. Não o da feira, nem o do supermercado, mas aquele que vem lavado com cuidado, servido com chantilly ou leite condensado num prato branco, ou guardado num post de alguém dizendo: “olha o morango do amor”. Essa pequena febre estética que tomou conta das redes sociais não é só bonitinha, pode ser um sintoma. A prova de que, talvez sem saber, estamos todos querendo voltar a amar com mais doçura.
A imagem do “morango do amor” viralizou como uma brincadeira, mas não foi à toa que colou. Há algo silenciosamente profundo nessa vontade de transformar um gesto comum em oferenda afetiva. Um prato com morangos, um beijo antes de dormir, uma mensagem dizendo “chegou bem?”. O morango é só um nome possível para essa fome de cuidado que andava reprimida, ou pelo menos ridicularizada. Agora, ela reaparece, vermelha, delicada e cheia de sentido.
É bonito ver o desejo ganhando corpo em algo tão simples. Como se disséssemos: não quero nada mirabolante, performático, quero com você um morango às três da tarde num dia besta. Quero beleza no meio da rotina. Quero que a paixão tenha temperatura ambiente, mas gosto de fruta fresca. A estética do “morango do amor” é a estética do afeto que talvez esteja voltando a sonhar com uma mesa posta ou um bilhete escrito à mão.
Na minha opinião, há uma geração que já entendeu que o amor não precisa ser espetáculo, mas precisa ser ritual. Que o cuidado pode ser vintage, sim, mas que a saudade do toque, da atenção e do detalhe é absolutamente contemporânea. E que tudo isso pode, sim, conviver com o Wi-Fi ligado. A internet, afinal, não matou o romance, só estava esperando que a gente voltasse a senti-lo com calma.
O morango do amor, no fim das contas, é só um pretexto. Uma senha secreta para lembrar que amar ainda é bonito. Que pode ser leve. Que pode ser simples. E que mesmo em um mundo em que tudo precisa ser útil, rápido e vendável, ainda existe espaço, e vontade, para a poesia das pequenas coisas. É só servir com afeto. E um pouco de açúcar. Pronto, um doce!
