Quando menos é mais: o novo desejo dos criadores de conteúdo

Com polarização, influenciadores vêm trocando multidão pelos nichos, e descobrem que falar com liberdade vale mais do que falar para milhões.

Durante muito tempo, o sonho de todo influenciador era claro: crescer, viralizar, acumular milhões de seguidores e alcançar o topo da internet. Mas essa lógica começa a mudar. De uns tempos pra cá, criadores de conteúdo vêm descobrindo que uma audiência imensa pode se transformar numa prisão. A cobrança constante, a vigilância moral e a pressão para agradar a todos transformam o ato de comunicar em um campo minado. Não é à toa que muitos agora preferem algo mais livre e verdadeiro.

Em vez de multidões impessoais, a aposta agora são nichos: públicos menores, mas mais abertos, mais específicos, mais afetivos. Gente que se aproxima por identificação e não por idolatria. Que escuta com generosidade, não com o dedo no gatilho. Gente que descorda, mas diz: é só um pensamento diferente. Esse público que discorda dizendo: “vou parar de seguir então”, por ideologia política, os criadores de conteúdo estão querendo é distância. Esse movimento não é uma fuga do público, mas uma reconexão com ele, um desejo de retomar o prazer de se expressar sem o medo de ser punido a cada palavra.

A verdade é que ninguém consegue ser genuíno diante de uma plateia que exige perfeição. Quando o medo de errar domina, a espontaneidade desaparece. Muitos criadores, artistas, jornalistas, advogados, atletas, pessoas de todas as áreas, e até influenciadores que já estão imersos em nichos específicos já começaram a perceber isso na prática: quanto mais tentavam agradar a massa, mais perdiam de si mesmos. A liberdade de errar, experimentar, opinar, e até mudar de ideia se tornou artigo de luxo e, por isso, tão desejado.

Esse movimento não significa abrir mão da relevância, mas redefini-la. Afinal, o que vale mais: ser ouvido por milhões que querem te moldar ou por milhares que te ouvem como você é? Falar com liberdade não é apenas um gesto artístico ou político, mas humano. A internet, que já foi símbolo de expressão livre, agora precisa reaprender o valor do pequeno, do profundo, do possível.

No fundo, essa escolha revela um amadurecimento de quem produz e também de quem consome. Porque não é sobre ser seguido por todos, mas sobre poder falar sem ser atacado por “seguidores”. E, nesse novo cenário, a intimidade vale mais que o alcance. O futuro da influência pode não ser grandioso em números, mas será, finalmente, mais honesto. Esse fenômeno não ocorre apenas na internet, mas em todos os grandes movimentos da vida. Primeiro vem o caos, depois tudo se organiza.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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