Com um contracheque de R$ 39 mil, pastor-analista apostou em figurino de liquidação para encenar o insólito espetáculo urbano.
Há quem diga que a vida é um grande teatro e que cada um interpreta seu papel com os recursos que tem. No caso do pastor-analista judiciário, esses recursos somam respeitáveis R$ 39 mil mensais, quantia que, na imaginação popular, poderia vestir qualquer criatura com sedas italianas ou linho egípcio. Mas eis que a realidade, essa roteirista maliciosa, preferiu presentear-nos com uma cena surreal: o homem de fé e de toga funcional, caminhando pelas ruas de Goiânia com uma calcinha suspeitamente desalinhada e uma peruca bagaceira que nem o mais otimista camelô ousaria vender por cinco reais.
Aparentemente, não se tratava de uma performance artística subvencionada pela Lei Rouanet, mas de uma incursão pessoal ao reino das excentricidades. A indumentária, se assim podemos chamá-la, parecia saída de um balaio de ofertas pós-carnaval. Nada contra a liberdade estética, afinal, quem nunca ousou no figurino, que atire a primeira meia arrastão… Mas é de se notar que, para alguém cuja conta bancária mensal ostenta o peso de um carro popular, a escolha do look foi de uma economia franciscana.
O detalhe que transforma o episódio de pitoresco em antológico é justamente essa contradição: a opulência dos vencimentos em contraste com a indigência do fetiche, ops, da fantasia. É como se Jeff Bezos, em noite de gala, surgisse trajando um smoking emprestado de formatura dos anos 90. O pastor, que maneja processos e prega sermões, demonstrou ali um talento raríssimo: unir, num só ato, a lascívia performática e o comedimento financeiro. Um tributo dizimático à poupança, com direito a rendimentos morais e dividendos de escárnio público.
Alguns poderão ver na cena uma parábola involuntária sobre humildade. Outros, uma tragicomédia sobre as prioridades do gasto público e do gasto privado. O fato é que, entre a calcinha tímida e a peruca combalida, o pastor nos brindou com um desfile de paradoxos: a fé e a carne, a toga e o tule, o salário régio e o figurino plebeu. Uma aula, ainda que involuntária, de como o luxo e o lixo podem dividir o mesmo cabide.
E assim, na passarela improvisada das calçadas de Goiânia, o safadinho pão-duro conquistou seu lugar na antologia dos acontecimentos nacionais. Mostrou-nos que, com 39 mil por mês, é possível comprar renda, mas não necessariamente renda de qualidade. E que, por trás de toda grande fortuna, pode haver um armário pequeno, modesto e, sobretudo, muito, muito econômico.
