“Parei de te seguir”: o novo suspiro patético de quem se acha importante demais

Quando a discordância vira chilique e o unfollow se transforma em grito, só nos resta rir e agradecer.

É curioso, para dizer o mínimo, como algumas pessoas acreditam que anunciar um “parei de te seguir” é um ato de resistência política ou um marco ético. Como se isso causasse abalo sísmico na vida de quem produz conteúdo, opinião. Como se alguém, ao ler a notificação de unfollow, largasse o café, olhasse pela janela e murmurasse: “meu Deus, e agora?”. Existe, nesse gesto que parece grandioso, uma dose impressionante de delírio narcísico: a pessoa se acha tão indispensável que imagina que sua ausência terá impacto estrutural na existência do outro. Spoiler: não tem e ninguém lembra.

Eis o ponto cômico e tragicômico. O sujeito não apenas discorda, ele precisa anunciar sua saída como quem bate a porta num palco, achando que haverá aplausos. Não há. Na totalidade esmagadora das vezes, quem “para de seguir” é alguém que o outro nem sabia que existia. E mais: em tempos de polarização política, o unfollow se tornou um tipo de penitência pública, um grito desesperado de “não sou como você!” disfarçado de superioridade moral. Mas o que se revela, no fundo, é uma fragilidade emocional profunda: a incapacidade de conviver com o contraditório. E isso, na psicanálise, tem nome: intolerância narcísica à frustração.

Deveriam colocar uma plaquinha: “parei de te seguir e achei que isso fosse te abalar emocionalmente”. É quase infantil. E o mais irônico é que, do outro lado, há um alívio, porque todo produtor de conteúdo inteligente torce para que os intolerantes, os autoritários emocionais, os incapazes de debate e empatia vão embora mesmo. Que saiam em silêncio, se possível. Que levem junto a pressa de julgar e a preguiça de entender. Ninguém que realmente constrói algo com senso crítico lamenta a saída de quem se ofende por ouvir algo fora de sua bolha. A porta está aberta, com tapete vermelho, inclusive.

No fundo, o “parei de te seguir” é um recado involuntário: “não sei lidar com ideias diferentes das minhas, então vou me retirar para continuar cercado apenas de reflexos do que penso”. Ou seja, uma autossentença ao empobrecimento intelectual. O que eles chamam de posicionamento político é, muitas vezes, puro sintoma de uma mente reativa, binária, que se sente pessoalmente ameaçada pela pluralidade. Uma mente que grita “liberdade” mas desmorona ao primeiro sinal de liberdade alheia. Uma mente que diz: “parei de te seguir”, e acredita, piamente, que isso é o golpe final. Quando, na verdade, é só mais um alívio.

Portanto, se você é dessas pessoas que já pronunciou, com solenidade, essa pérola: “parei de te seguir”, saiba que isso nunca foi uma ameaça. Nunca será. Ao contrário, é quase um presente. Um favor. A única coisa que você conseguiu mostrar, de fato, é o tamanho do seu ego em contraste com a pequenez da sua escuta. E o mais engraçado? Você vai embora achando que fez um estrago, sem perceber que ninguém sentiu falta. E isso, sim, deveria te fazer pensar, ou pelo menos, te envergonhar um pouquinho.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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