O silêncio tímido do novo papado em meio a destruição global

Sem Francisco, Igreja Católica tem discursos tímidos e insipientes, e se recolhe em silêncio dentro do Vaticano enquanto o mundo implora por voz diante das guerras

O mundo nunca esteve tão acompanhado e, paradoxalmente, tão solitário. Cada explosão, cada ataque, cada lágrima derramada em meio às guerras é transmitida em tempo real, acompanhada por milhões de olhos em todas as partes do planeta. Da América Latina aos Estados Unidos, passando pelo Oriente Médio, o mapa global parece uma cartografia de pólvora, onde a paz se desmancha no ar e a guerra se multiplica em chamas. E diante de tanta dor, a pergunta ecoa: onde está a Igreja Católica?

A ausência não é apenas física, mas sobretudo simbólica. Com Francisco, havia um farol, uma vitrine que, mesmo entre polêmicas, iluminava debates e chamava à responsabilidade coletiva. Sua voz cortava fronteiras, provocava governos, incomodava líderes, inflamava fiéis. Hoje, ao contrário, a Igreja parece recolhida em silêncio, confinada às paredes do Vaticano, em mensagens tímidas que não chegam nem ao coração de quem acredita, quanto mais ao ouvido de quem detém armas.

Não se trata apenas de orações ou comunicados burocráticos. Trata-se de representatividade. A Igreja, que durante séculos se apresentou como mediadora em conflitos, como bastião de esperança para povos massacrados, parece agora encolhida, temerosa. O medo não é do inimigo externo, mas das próprias sombras internas, de desagradar o poder norte-americano, de não se alinhar ao novo jogo político que dita o tabuleiro global. O “Papa americano” talvez seja mais aceito em salões diplomáticos do que nos campos de refugiados neste momento.

Enquanto igrejas são bombardeadas e fiéis se tornam alvos, o que se ouve é um murmúrio. Comentários soltos, sem impacto, que desaparecem em meio ao ruído das bombas. A força simbólica que outrora dava voz aos sem-voz foi dissolvida em comunicados frágeis, incapazes de tocar consciências ou de convocar ao mínimo gesto de paz. Parece que, com a saída de Francisco, não foi apenas um líder que se apagou: apagou-se também o sopro que mantinha viva a chama da Igreja Católica no debate público global.

E assim seguimos, com um mundo cada vez mais acompanhado pelas telas, mas sem companhia espiritual. A Igreja Católica, que poderia ser bússola moral diante da escuridão, recua para dentro de si mesma, deixando órfãos não apenas os fiéis, mas toda a humanidade que buscava nela um eco de esperança com o Papa Francisco. O silêncio da Igreja de Pedro, neste caso, é mais ensurdecedor do que qualquer explosão.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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