Entre o ruído das notificações do celular e o barulho do mundo, jovens redescobrem algo antigo e revolucionário: o silêncio em movimento
Não há mais música nos fones, nem mensagens no bolso, nem podcast no ouvido. Há apenas o som dos próprios passos e, com alguma sorte, o barulho das folhas movidas por um vento que ainda não desistiu de soprar. Essa é a proposta do chamado silent walking, uma prática que tem viralizado entre jovens no mundo todo, e propõe algo subversivo para os tempos atuais: caminhar em silêncio, sem celular, sem distrações, apenas consigo mesmo. À primeira vista, parece simples. À segunda, começa a assustar.
O medo de estar sozinho com os próprios pensamentos talvez seja o maior sintoma do nosso tempo. Colocamos fones de ouvido não apenas para escutar, mas para calar o que ecoa dentro. Cada playlist serve como distração para o que pulsa ou dói em silêncio. Por isso, há algo quase revolucionário nesse gesto de caminhar e ouvir-se. Sem tela, sem GPS, sem voz que guie o trajeto. Caminhar como metáfora de si mesmo: um percurso que não se vê no mapa, mas que exige fôlego interno para seguir.
Freud dizia que o inconsciente é atemporal, e talvez por isso ele só apareça quando o tempo desacelera. Não há feed para rolar, nem destino urgente. Só o instante presente e aquilo que ele insiste em mostrar. Para quem anda em silêncio, a cidade começa a falar outras coisas: o farfalhar das árvores vira mensagem, o ruído dos carros vira trilha, o canto de um pássaro esquecido parece sinal. Tudo vira escuta, porque, no fundo, era a escuta que sempre nos faltava.
O sucesso talvez não esteja no que ele oferece, mas no que ele retira. É a ausência que produz o efeito. É a falta de estímulo que devolve a sensibilidade. E no meio dessa marcha desplugada, algo precioso acontece: o sujeito se reencontra. Sem precisar ser produtivo, performático ou informado. Apenas um corpo que anda. Uma mente que respira. Um eu que não grita, mas finalmente ouve.
Talvez seja esse o novo yoga urbano: um ritual de presença silenciosa, sem tapete nem incenso, mas com a coragem de não fugir de si. Porque o silêncio, quando respeitado, não oprime. Ele revela. E caminhar em silêncio, hoje, pode ser o gesto mais íntimo e mais moderno que alguém pode fazer por si mesmo.
