Ao inflacionar diárias para a COP30, rede hoteleira de Belém sabota o próprio estado e transforma oportunidade histórica em escândalo internacional, retirando Belém dos próximos grandes eventos no Brasil
Não é preconceito, é denúncia. Qualquer coisa fora disso é militância vazia e oca. Há uma tentativa desesperada, e bastante desonesta, de transformar críticas legítimas à exploração da COP30 em uma narrativa de perseguição ao Pará. Não cola. Quando hotéis de Belém cobram R$ 6.000 por uma diária simples, que custaria no máximo R$ 300, não estamos diante de xenofobia ou regionalismo: estamos diante de ganância e roubo descarado. O que se vê é a extorsão de quem deveria acolher. A COP30 é um evento que coloca o Pará no centro do mundo por razões nobres: preservação ambiental, economia verde, justiça climática. Mas a ganância de empresários locais ameaça enterrar tudo isso sob o peso de recibos absurdos. Diversos países estão pedindo a troca da sede da Cop30 com provas e documentos que beiram a extorsão. Diárias em quartos sem ar-condicionado e café da manhã que ultrapassam valores de quartos do Copacabana Palace em semana de show de Lady Gaga.
Chamar de preconceito o que é, na essência, um crime contra o bom senso é um erro estratégico e moral. Essa inversão de valores não protege o estado do Pará, ao contrário, o compromete. O problema não são os estrangeiros reclamando dos preços; o problema são os paraenses honestos, trabalhadores, que verão sua terra ser estigmatizada como um destino hostil. O povo do Pará não merece isso. O empresariado local, que agora age com ganância, deveria entender que a COP30 não é um leilão de oportunidade, mas um compromisso com o futuro. Em vez disso, muitos se comportam como atravessadores em feira livre, sem visão de longo prazo.
Quando se cobra o triplo do valor de uma diária no Copacabana Palace em um quarto sem ar-condicionado, a mensagem enviada ao mundo é clara: não somos sérios. Somos picaretas. Não há defesa possível. Nem a beleza do Ver-o-Peso, nem a riqueza cultural, nem as águas da Ilha do Combu, que me fez eternamente apaixonado por Belém, nem a culinária magnífica são capazes de apagar a má-fé de quem explora uma ocasião histórica com olho apenas no próprio bolso. Já há países sinalizando que se sentem enganados, que cogitam pressionar por uma nova sede. Isso não é exagero; é consequência.
Talvez não haja mais tempo de mudar a cidade-sede, mas certamente o que está acontecendo já risca Belém do mapa das futuras candidaturas. E quem perde não é só o empresariado que queria ficar rico em dois dias: perde a cidade, perde o estado, perde o Brasil. Essa é a hora de autocrítica. De parar de acusar fantasmas externos e começar a olhar para o próprio umbigo. Quem sabota o Pará não está em outro estado, nem em outro país: está aí mesmo, em Belém, vestindo terno e inflando o valor de uma diária com a mesma naturalidade com que se infla um pneu furado.
A COP30 é, ou era, a chance de mostrar ao mundo a força e a beleza da Amazônia brasileira. Mas ao transformar hospitalidade em extorsão, Belém dá um tiro no próprio pé e, pior, empurra o povo paraense para fora da equação de progresso. O Pará precisava de empresários comprometidos com o coletivo. Ganhou oportunistas. Isso não é preconceito. É revolta. Justificada, necessária e urgente.
