Ex-capitão que dizia que “vitimismo é frescura” agora levanta a calça para mostrar tornozeleira como quem pede colo em desespero
A cena é de um teatro tragicômico: Jair Bolsonaro, o homem que virou presidente da República dizendo que “direitos humanos é mimimi”, agora ergue a barra da calça como quem pede atenção. Mostra a tornozeleira eletrônica não com constrangimento, mas com o desespero de quem quer que o Brasil inteiro veja sua “humilhação” e, claro, se comova. Não é mais aquele político durão que dava carteirada com frases tipo “acabou o mimimi”, mas um senhor trôpego que tenta transformar a tornozeleira em medalha de honra. Se isso não é mimimi, o que seria?
A extrema direita que ele lidera sempre teve um manual bem definido: dor dos outros é frescura, sofrimento alheio é vitimismo, militância desmedida, e chorar em público é coisa de gente fraca. É MIMIMI! Quando estudantes choravam por cortes na educação, era mimimi. Quando mães protestavam por filhos mortos pela polícia, era mimimi. Quando artistas denunciavam censura com o fechamento do Ministério da Cultura, era mimimi. Mas agora, quando o líder supremo da bala e do boi sente o peso da Justiça no tornozelo, tudo muda de figura. Agora o choro é legítimo, é preciso direitos humanos, é preciso de plateia.
O gesto de Bolsonaro é performático, como sempre foi. Ele nunca governou com sobriedade, mas com encenação. E, como todo ator de vaudeville político, agora ensaia uma nova narrativa: a do perseguido. Ele que se orgulhava de nunca ter chorado, ele que prestou homenagens ao maior torturador da história brasileira, Coronel Brilhante Ustra, agora esperneia. Ele que dizia “vitimismo não leva a nada”, agora faz vitimismo em horário nobre, com a fidelidade de quem acredita que, ao se fazer de vítima, recupera alguma dignidade. Só esqueceu de avisar ao público que o roteiro mudou.
Essa virada retórica, no entanto, é um marco político importante. Quando o símbolo máximo do anti-mimimi se curva ao sentimentalismo barato, temos uma confissão: o projeto ruiu. O líder da virilidade bélica agora é o porta-voz do “me ajudem”. E, no fim das contas, talvez o bolsonarismo nunca tenha sido sobre força, mas sobre ressentimento e raiva. O ressentido e a raiva, quando encurraladas, gritam! E o mimimi, que antes era um termo usado para calar os outros, virou agora o único recurso de quem perdeu o controle sobre sua própria força.
Bolsonaro ensinou o Brasil a debochar acerca do mimimi. Mas, ironicamente, será lembrado por ter feito exatamente isso: um mimimi em rede nacional, com tornozeleira, ego ferido e a certeza de que, ao final, não era tão forte assim. Que o novo lema seja claro: ninguém solta a barra da calça de ninguém.
