Zema, Tarcísio e Caiado transformam Bolsonaro em troféu de gincana, brigando para ver quem poderá entregar a indulgência mais reluzente
O Brasil político, às vezes, parece escrito por um dramaturgo que mistura Shakespeare com Zorra Total. No palco, não temos Hamlet perguntando “ser ou não ser?”, mas três governadores gritando em uníssono: “quem indulta primeiro, leva mais voto!”. Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado entraram numa corrida eleitoral que não exige preparo físico, apenas oportunismo: quem prometer livrar Bolsonaro do peso da Justiça será coroado herdeiro da herança bolsonarista.
O espetáculo é grotesco e cômico. Tarcísio, com sua gravidade de gestor aplicado, acena que dará o indulto com cerimônia oficial e transmissão em rede nacional. Zema, mais minimalista, promete um indulto “de baixo custo”, entregue em três parcelas sem juros, com recibo carimbado pelo Novo. Já Caiado, sempre teatral, anuncia que dará o indulto a cavalo, em praça pública, distribuindo terços e abraçando devotos. A cada promessa, a disputa soa menos como política e mais como o leilão de quem oferece a vaca mais gorda, mesmo que já esteja só o couro e os ossos.
Bolsonaro, ironicamente, deixou de ser sujeito político para virar objeto de barganha. Não é mais o “mito”, mas a “carcaça eleitoral”: um cadáver simbólico carregado em andor por aqueles que querem se mostrar guardiões de sua memória. E, como todo cadáver, não fala, não se defende, apenas é manipulado, até mesmo pelo Malafaia. Cada um dos três governadores tentando convencer o eleitor de que, ao dar-lhe o indulto, ressuscitará a fé no projeto que já tombou. A cena lembra um velório animado, em que a disputa não é por lágrimas, mas por quem fica com o anel do falecido.
A graça presidencial, neste enredo, virou moeda de feira. Não se fala em economia, educação, ciência ou inovação; fala-se em clemência a um político condenado. Como se o Brasil fosse um país medieval, e os governadores, príncipes disputando a relíquia de um santo controverso, prometendo indulgências em troca de votos. É a transformação da Justiça em peça de marketing, da política em caricatura. E o mais saboroso para o observador é perceber que, nesse teatro, ninguém se preocupa de fato com Bolsonaro, apenas com os dividendos que sua sombra ainda pode render.
O resultado é uma comédia política involuntária, em que os três candidatos, em vez de apresentarem projetos de futuro, ensaiam performances de advogados da graça divina. O eleitor, por sua vez, assiste a essa tragicomédia nacional e se pergunta: em 2026, votaremos em quem governa ou em quem melhor souber distribuir perdões como quem distribui santinhos de campanha? No fim, a piada é ótima, mas dói: estão mais preocupados em salvar a carcaça do que em salvar o país.
