Quando o coração quer ver estrelas, o bolso nem percebe o eclipse.
O romance moderno, especialmente aquele que floresce sob a luz artificial das redes sociais, é uma espécie de teatro onde todos conhecem o roteiro, mas fingem estar improvisando. Recentemente, a plateia ganhou um novo espetáculo: uma dama conhecida por sua altivez foi cortejada por um jovem que, curiosamente, tem mais brilho no olhar quando a câmera está ligada. E como todo bom ator iniciante, ele sabe que a fama é muito mais generosa quando vem com uma boa história de amor embalada em laços dourados.
O mais fascinante, no entanto, não é a habilidade do pretendente, mas a disposição da protagonista em acreditar, ou fingir que acredita, no enredo. É como assistir a uma peça onde o mágico revela o truque antes de começar, mas o público continua aplaudindo encantado. Talvez seja esse o charme: a consciência de que a ilusão, quando bem vestida, é tão confortável quanto um vestido sob medida.
Algumas mulheres, sobretudo as que já têm a vida recheada de conquistas, parecem se divertir com esse jogo silencioso de “eu sei que você sabe que eu sei”. Elas enxergam o que está por trás do sorriso ensaiado, mas decidem manter a cortina fechada. Afinal, a solidão pode ser mais implacável do que a má fé alheia, e um romance, mesmo com final previsível, ainda rende boas fotos, bons jantares e boas histórias para contar.
No fundo, o que encanta não é o rapaz, mas o enredo que ele representa: a juventude, a atenção pública, a narrativa de que ainda se é capaz de inspirar paixões. É um espelho que devolve uma imagem mais luminosa, mesmo que distorcida. E quem somos nós para condenar alguém que prefere um reflexo bem editado a uma realidade sem filtros?
Não é de hoje que o amor vive mais de encenação do que de sinceridade. E talvez, só talvez, haja uma sabedoria secreta em escolher um papel no palco do romance, mesmo sabendo que o cenário é de papelão. O aplauso ainda é verdadeiro, e isso, para alguns, basta.
