Neymar voltou, mas não subiu do recreio quando sino tocou

Promessa de liderança técnica no Santos, Neymar tem se comportado como um menino mimado em batmovel no time dos adultos: ontem foi mais eficiente em quebrar com um chute a bandeirinha do gramado, do que qualquer coisa

Quando o Santos anunciou Neymar, muita gente achou que veríamos o retorno do craque à sua origem como um fechamento de ciclo glorioso. Era a imagem perfeita: o menino da Vila, agora homem feito, voltando para casa para liderar, inspirar, finalizar. Mas a verdade, dura, incômoda e técnica, é que Neymar não voltou como líder, voltou como problema. Não marca, não cria com constância, e agora coleciona cenas patéticas, como a de deixar o campo para discutir com torcedor, ou chutar e quebrar a bandeirinha do gramado, como fez ontem, num gesto mais parecido com briga de intervalo em colégio do que com postura de profissional.

É difícil falar de Neymar sem cair na tentação de defendê-lo pelo talento que, de fato, ele tem. É um dos melhores do mundo, sem dúvida. Mas talento não vence jogo sem disciplina, sem entrega, sem consciência coletiva. E, principalmente, com emocional de um garoto de 12 anos. Neymar parece não querer amadurecer. Em vez disso, busca aplauso no drible isolado, na provocação infantil, no protagonismo que não se sustenta no placar. O Santos precisa de um homem que pense o jogo, e Neymar tem oferecido uma caricatura de si mesmo: um eterno prodígio preso no espelho do passado.

Tecnicamente, Neymar é hoje uma peça sem função clara. Não recompõe, não finaliza com eficiência, não assume a bronca tática, e ainda desconcentra o time. No vestiário, o que poderia ser experiência virou ruído. Em campo, o que poderia ser brilho virou ausência. E quando sai para discutir com a torcida, o que sobra é constrangimento. Porque um atleta de alto nível não responde a vaia com chilique, responde com gol. Neymar tem respondido com silêncio técnico e estardalhaço emocional.

E não se trata de cobrar o impossível. Não se espera que Neymar corra o campo inteiro como um volante de 20 anos. Espera-se, sim, que ele tenha noção do próprio peso, do que representa, e que entenda que voltou para ser referência. Mas ele parece mais interessado em alimentar a própria mitologia do que em jogar bola. É como se dirigisse um batmóvel com a habilidade de um piloto de fuga, mas sem rumo, sem missão. A velocidade é real, mas a direção é inexistente.

No fim, Neymar virou no Santos aquilo que nenhum técnico deseja: uma expectativa frustrada que precisa ser administrada. Porque não se pode montar um time em torno de alguém que explode a qualquer momento. O futebol profissional exige maturidade, inteligência tática e responsabilidade emocional. E, até agora, Neymar voltou apenas como o menino do recreio. Ocorre que sino já bateu, ele ainda não subiu para a sala de aula.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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