A piada fora de hora: não cabe brincadeira quando uma mãe que enterrou seu filho, vítima da contaminação de metanol, assiste a coletiva. Governador deveria se desculpar pela brincadeira em meio ao luto
“Estavam aqui os fabricantes, todos os maiores fabricantes, players do Brasil, estavam na mesa. Que fabricam as bebidas mais famosas, que são objetos de falsificação, Jack Daniel’s, Johnnie Walker. Enfim, todas essas bebidas que são objetos de falsificação. Não vou me aventurar aqui nessa área, porque não é minha praia, tá certo? No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar. Ainda bem que ainda não chegaram a esse ponto.”
Ao ouvir essa fala, proferida por Tarcísio de Freitas durante coletiva sobre os casos de contaminação por metanol, sentimos imediatamente o choque da leveza inadequada em um momento que exige gravidade e respeito as mortes. Isso não é apenas um deslize retórico: é uma fratura na percepção de responsabilidade e sensibilidade para com as famílias que choram entes queridos, e que assistiam a coletiva, e também aos que lutam em hospitais, que enfrentam traumas ou cegueira depois de consumir a bebida adulterada.
Política e poder não são terrenos para brincadeiras quando vidas foram ceifadas. Quando se tem uma morte consumada pela intoxicação, quando se têm vítimas em estado grave, não cabe “não é minha praia” ou “vou me preocupar quando falsificarem Coca-Cola”. O momento é de reconhecimento de culpa possível, de socorro, de escuta ativa, não de humor deslocado. Ao externalizar seus gracejos, o governador revela uma distância inadmissível entre governo e sociedade em luto.
Esse tipo de discurso remete a tempos sombrios que muitos ainda carregam. Quantas vezes assistimos líderes minimizar tragédias, brincar com dores públicas, e depois tentar amenizar com promessas vazias ou arrependimentos tardios? A história nos alerta: quem brinca com a dor coletiva dificilmente é perdoado. Quase nunca é perdoado. E nesse caso, o governador Tarcísio entra num terreno perigoso, onde o peso do cargo exige que a fala cumpra, não que desarme a crítica com risos.
Que este episódio sirva de admoestação: governantes devem falar com dignidade quando o país sangra. Brincar em meio ao luto é ferir ainda mais. As famílias que choram merecem mais do que desculpas, merecem responsabilidade, ação e respeitosa solenidade. Sem brincadeiras, sem piadas. Respeito!

O que você queria de um adepto do Bolsonarismo?isa