Jantares fluorescentes: comeria um risoto que brilha no escuro?

Entre a estética alienígena e o apelo instagramável, a nova moda dos pratos fluorescentes põe à mesa uma pergunta incandescente: será que o Brasil está pronto?

Imagine a cena: um restaurante em Londres, luz negra no teto, trilha sonora ambiente com algo entre música ambiente japonesa e trilha de spa, e no centro da mesa… um prato que brilha. Literalmente. Fosforescente como um hidrocor verde limão de camarão. Essa é a nova moda que, se não está no seu feed ainda, comece a seguir alguns veículos lá de fora que eles vão aparecer em breve: pratos com ingredientes biofluorescentes, que reagem sob luz negra. É a cozinha molecular com vontade de aparecer e, convenhamos, está conseguindo.

Em Cingapura, já servem petiscos que parecem saídos de uma rave no fundo do mar. Em Londres, tem gente pagando mais de 100 libras para comer um ravioli que pisca. O mundo quer comida que parece vinda de Pandora, o planeta de “Avatar”. O problema é: será que o Brasil, esse país onde pastel com caldo de cana ainda é insuperável, está preparado para um carpaccio que acende no escuro?

Eu achei levemente cômico essa busca por um jantar que brilha. O que queremos é o espanto. O prato virou luz, o garçom virou iluminador e o jantar, um espetáculo que precisa render conteúdo. Comer, hoje, é um ato performático? E se antes a gente dizia “tá bonito, mas tá gostoso?”, agora a pergunta é: “brilha, mas é comível?”

No Brasil, onde o tomate já virou item de luxo e a couve está custando o preço do ouro, talvez a ideia de pagar caro por um sushi radioativo encontre alguma resistência. Mas não duvide: o brasileiro, quando se apaixona por uma novidade, vai até o fim. Já comemos coxinha de brigadeiro, já batizamos milkshake com nomes de celebridade. Um prato fluorescente, dependendo do bairro e do influencer envolvido, vira sucesso em três dias. O morango do amor que se cuide.

E, cá entre nós, quem nunca quis um jantar que brilhasse mais que a companhia? No fundo, a gente não quer só comida. “Quer comida, diversão e arte!” Comida, luz negra, e uma selfie com legenda espirituosa? Se o prato brilha, a alma também acende um pouquinho?

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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