Uma delas é: quando vê uma mulher sendo agredida na rua, intervir é prioridade, mesmo que precise agredir o agressor.
Há momentos na vida de um homem em que o cálculo frio, a neutralidade confortável e o distanciamento covarde não têm lugar. Existem instantes em que a única resposta moralmente admissível é a ação imediata e contundente. Quando uma mulher é espancada diante dos olhos de todos, não há argumento pacifista ou justificativa de prudência que redima o homem que permanece imóvel. O silêncio e a inércia, nesses casos, têm a mesma textura moral da agressão. E, convenhamos, quem vê um crime e não o confronta, mesmo podendo, é cúmplice de sua execução.
Nos últimos dias, imagens brutais invadiram as redes: homens arrastando mulheres pelo cabelo, esmurrando-as em plena luz do dia, sob o olhar de testemunhas masculinas que, no máximo, balbuciam um “calma” como se a barbárie fosse apenas um desentendimento conjugal. É a cena perfeita da falência da coragem, o retrato de uma masculinidade domesticada pela indiferença. Não se trata de discutir protocolos ou esperar a polícia: trata-se de compreender que, diante de um ato violento, a espera é um luxo que custa sangue.
A covardia aqui não é apenas a ausência de força física: é a renúncia ao próprio papel de homem no sentido mais profundo e ancestral do termo: o de protetor da vida alheia quando esta está sob ataque iminente. Sim, há coisas que um homem tem de fazer, ainda que custem arranhões, socos ou a própria segurança momentânea. O que está em jogo não é a preservação da sua integridade física, mas a integridade moral de quem você é. O dia em que um homem se conforma em ver outro agredir uma mulher sem reagir é o dia em que abandona a si mesmo.
É preciso dizer com todas as letras: há ocasiões em que “partir para cima” não é selvageria, é humanidade. A força física, quando usada para interromper uma agressão, não é violência, é intervenção legítima de defesa, é o braço estendido da justiça quando esta não tem tempo de chegar de farda. A retórica do “não se meta” é um eufemismo para “deixe que ela apanhe em paz”. E se isso soa duro, é porque é duro. Porque a omissão diante de um ato de brutalidade é, por definição, uma forma de brutalidade passiva.
O país não precisa apenas de leis mais severas ou campanhas de conscientização: precisa de homens que, ao verem um ato desses, sintam na carne que não podem ficar parados. Homens que entendam que não há neutralidade possível quando o mais forte subjuga o mais fraco. Homens que percebam que seu valor não está no quanto ostentam ou conquistam, mas no quanto protegem e defendem. Porque, sim, há coisas na vida de um homem que ele precisa fazer. E salvar uma mulher de um agressor, ainda que à força, é uma delas.
