Sem força para fechar o STF, golpistas tentaram fechar o Congresso Nacional pelas suas próprias pautas, como se fossem os únicos parlamentares eleitos pelo povo
Na política, um golpe de Estado é a ruptura da ordem institucional vigente, seja pela força ou por mecanismos dissimulados que neutralizam os poderes republicanos. Ao longo da história, ditaduras modernas têm aprendido a operar não mais com tanques nas ruas, mas com manipulação das instituições, achatamento da pluralidade e imposição de uma vontade única, disfarçada de interesse nacional. Quando grupos fecham a mesa do Congresso Nacional, o diálogo por ameaças e a negociação por chantagens, estamos diante de uma engenharia golpista.
Quem estudou minimamente fora de um quartel sabe: o Parlamento é mais do que uma estrutura de poder: é o reflexo das contradições, das desigualdades e das vozes diversas de um povo. Ao inviabilizar o funcionamento do Congresso ou subjugá-lo a uma pauta autoritária, nega-se o pacto coletivo da democracia representativa. É transformar um país de mais de 200 milhões de pessoas em figurantes de um roteiro decidido por poucos. Quando o Legislativo se cala, não é o barulho do silêncio que preocupa: é o que se planeja por trás dele.
O tema ‘dá caldo’ até no campo da psicologia política: o desejo de eliminar o contraditório revela uma pulsão autoritária que se alimenta da intolerância e do medo. É mais fácil tentar calar o Congresso do que construir consenso. Mais confortável destruir pontes do que sustentá-las. Mas, nesse movimento, o que está em jogo não é apenas um jogo de poder entre instituições: é a estabilidade emocional e política de um país que ainda cura as feridas de traumas autoritários mal resolvidos. É como se o Brasil falasse: Ainda estou aqui.
É preciso dizer com todas as letras: quando se tenta impedir o Congresso de funcionar livremente, estamos diante de um golpe de Estado. Não há meias palavras, meias rupturas ou meias ditaduras. A democracia é feita de desacordos, de pluralidade, de conflito institucionalizado. Substituí-la pela imposição de uma vontade única, mesmo que envernizada de moral ou eficiência, é trair a Constituição e o povo que ela representa. Quem fecha o Congresso, fecha o Brasil.
