Frank Caprio, o juiz da compaixão

Um homem cuja empatia transcendeu as fronteiras do tribunal e levou humanidade ao sistema judicial.

Da quietude da minha janela, pensando em compaixão e empatia, fui lançado pelo pensamento à quietude do tribunal. Lembrei de Frank Caprio, que sempre chegava aos tribunais para definir o futuro das pessoas com a serenidade de quem sabe que a justiça, quando verdadeira, não está apenas nos códigos legais, mas na dignidade do ser humano que ali se apresenta. Nomeado juiz-chefe no tribunal municipal de Providence, em 1985, ele conduziu sua longa carreira, que se encerrou em 2023, com um olhar de compaixão que jamais permitia que regras técnicas eclipsassem o coração de quem buscava humanidade e reparação. Sua postura gentil não era sinal de frouxidão, mas de uma humanidade lúcida que sabia que o bom senso elevado a valor, sobretudo no judiciário, tem o poder de transformar vidas. 

No mundo contemporâneo, tão marcado pela indiferença, Caprio se tornou um símbolo de esperança. Sua fama internacional mostrou que a compaixão pode, sim, ser a mola-mestra de uma sentença justa. Com mais de um bilhão de visualizações nas redes sociais, seus julgamentos virais revelavam menos um espetáculo e mais uma lição: justiça pode ser humana, justa e humilde. 

Sua empatia se manifestava em pequenos gestos que reverberavam longe, como quando perdoou uma infração de trânsito cometida por um idoso de 96 anos que levava o filho doente a um exame médico, ou quando envolveu crianças no plenário, para trazer leveza e humanidade à cena. Esses momentos se tornaram emblemáticos, porque lembravam que o Direito, em sua essência, é menos sobre o rigor da lei e mais sobre o alívio do sofrimento. Caprio, com gentileza, lembrava ao mundo que “com liberdade e justiça para todos” não é apenas uma frase imponente: é um apelo ético que precisa ser cumprido. 

Nos últimos capítulos de sua história, Caprio enfrentou sua própria batalha: diagnosticado com câncer em dezembro de 2023, compartilhou sua jornada com o público, pedindo orações e transmitindo esperança, fé e dignidade até seus últimos dias. Em sua última mensagem, feita da cama de hospital, ele ainda convidava ao espírito coletivo: “Lembre de mim em suas orações novamente” e ali, mesmo fragilizado, viveu como sempre julgou: com humildade, gratidão e abertura ao outro. 

Hoje lembrei que ainda não tinha escrito sobre ele. Estava anotado aqui, no meu caderninho. E, por isso, digo agora que ele foi mais do que um magistrado, mas um homem que fez da empatia sua lei maior. Ao encerrarmos esta crônica, deixo o convite, como ele deixaria, para que cultivemos, em nossas vidas e em nossos ofícios, a coragem de mesclar justiça com coração. Leis com bom senso. Que sua partida, repentina em 20 de agosto de 2025, inspire não luto apenas por sua ausência, mas um compromisso continuado com a compaixão. 

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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