O impacto de um influenciador que decidiu usar sua voz para o que importa
Vivemos imersos num mar raso e turvo. As redes sociais, que já nasceram com a promessa de conexão, se transformaram em vitrines de vaidade, palco para a banalização da dor e do perigo. A erotização infantil, que deveria chocar e provocar ação imediata, é muitas vezes empurrada para um canto, tratada como detalhe incômodo por uma audiência anestesiada. A lógica do consumo digital, movida a cliques e curtidas, criou um conformismo perverso: se a publicação incomoda, basta rolar a tela. E assim, o intolerável é normalizado.
Foi nesse cenário que o influenciador Felca decidiu ir na contramão. Ao expor o caso de Hytalo Santos e apontar a cadeia de erotização que alimenta redes de pedofilia, ele não apenas informou: ele rasgou o silêncio. Sua fala foi incisiva, seu alcance, cirúrgico: pouco depois de seu vídeo, os perfis denunciados desapareceram do Instagram. Mais do que uma vitória pontual, esse movimento mostrou o que acontece quando alguém com real poder de influência resolve mirar no alvo certo.
O gesto de Felca tem peso histórico agora. Pode ter sido um marco que deve ser aproveitado com 100% de aproveitamento. Ele rompeu o pacto tácito de indiferença que rege boa parte do ambiente digital. Ao usar sua credibilidade para dar visibilidade a um crime que muitos preferem não enxergar, ele acionou o mecanismo da responsabilização coletiva. O espectador deixou de ser mero consumidor de conteúdo para se tornar testemunha e, potencialmente, agente de mudança. É um lembrete de que influência verdadeira não se mede em números, mas na capacidade de provocar uma ação que persiste depois que a tela se apaga.
A porta que Felca abriu não pode ser fechada. Ele mostrou que é possível furar a bolha de futilidade que domina o entretenimento online e fazer da audiência um espaço de consciência. Se um influenciador tem força para viralizar uma dança ou uma piada, tem também para derrubar perfis, mobilizar denúncias e constranger criminosos. É uma questão de escolha e, no caso dele, a escolha foi intransigente: não negociar com a escuridão.
No fim do túnel digital, onde tantos se perdem em luzes artificiais, há ainda pontos de claridade genuína. Felca provou que essa luz pode partir de quem, no meio de tantos influenciadores rasos e reféns da monetização, opta por carregar um farol. Ao dar voz a uma causa que a sociedade vinha tapando os olhos para não ver, ele não só iluminou um crime: iluminou a possibilidade de que o digital, mesmo sujo, ainda possa ser um território de coragem. Parabéns, Felca!
