Três anos em São Paulo bastaram para entender que não existe cidade perfeita
Há três anos deixei o Rio de Janeiro para viver em São Paulo. Não foi uma fuga, foi um passo. E como todo passo largo, teve tropeço e teve voo. No começo, confesso: tudo me parecia duro, seco, impaciente. Eu, acostumado com o horizonte azul que se impõe até nos dias nublados do Rio, me vi cercado de concreto, buzinas e um céu quase sempre acinzentado. Mas São Paulo tem um tipo de beleza que não se exibe de imediato: ela se revela no movimento. É uma cidade que empurra, que obriga a gente a se mover. E isso também é uma forma de poesia.
Enquanto o Rio é pura contemplação, São Paulo é ação. O carioca senta à beira do mar para filosofar sobre a vida; o paulistano se senta num café entre uma reunião e outra, fazendo da pausa um intervalo estratégico. No Rio, o tempo tem preguiça. Em São Paulo, o tempo mal respira. E ainda assim, há algo de mágico nisso tudo. São Paulo nos ensina a urgência, a potência da criação, a beleza da pressa quando ela é cheia de propósito. Se no Rio a paisagem consola, em São Paulo, o movimento inspira.
Mas há dias em que sinto falta do tal jeitinho carioca, e não estou falando do clichê da malandragem, mais do jeitinho do abraço, dá pra puxada para um chopinho, do jeitinho carioca disfarçado em gesto. Aqui em São Paulo, as pessoas se esbarram sem se ver. É tudo mais prático, mais direto, até no cumprimento. Enquanto no Rio dois beijinhos selam o encontro com afeto quase fraternal, aqui basta um, seco, rápido, e a pessoa já virou o rosto e foi embora. Dá vontade de puxar de volta e dizer: “Calma, ainda falta um”. Porque falta mesmo: não o beijo, mas o tempo de sentir.
E é aí que percebo: nenhuma cidade perde ou ganha. Cada uma nos oferece um tipo diferente de espelho. O Rio me ensinou a olhar com ternura; São Paulo me ensinou a olhar com foco. O Rio me deu raízes, São Paulo me deu asas. Se num lugar eu aprendi a esperar o pôr do sol, no outro aprendi a correr atrás dele.
No fim, pouco importa se são dois beijos ou um só. Eu prefiro dois! Mas, tudo bem. O que importa é não esquecer quem a gente é. Porque quando a gente carrega a essência do lugar de onde veio, com sua doçura, sua calma, seu jeito de ver o mundo, a gente consegue encontrar beleza em quem está na outra ponta, com sua própria essência. E a gente se conecta em pontos em comum. Seja nas esquinas apressadas de São Paulo ou nos mirantes calmos do Rio. E viver entre esses dois mundos é, talvez, o maior presente.
