Entre o afeto e a notícia: e se o jornalista gosta demais da celebridade?

Cobrir o universo das celebridades exige uma difícil balança: equilibrar o carinho pelos famosos com o compromisso inegociável com o público.

Cobrir o mundo dos famosos não é, como muita gente pensa, um desfile de fofocas e flashes. Para quem vive isso de perto, como eu, a maior dificuldade são duas: ter pelo menos duas exclusivas todos os dias, algo que ninguém jamais falou. Já a segunda, não é descobrir algo: é decidir o que fazer com o que a gente descobre. E, principalmente, quando quem está no centro da notícia é alguém por quem a gente tem afeto real. Muitas vezes, somos os primeiros a saber de um rompimento, de uma gravidez, de um contrato desfeito ou de uma crise nos bastidores. E aí começa o dilema: contar ou proteger?

O instinto de quem gosta é proteger. A gente pensa na carreira da pessoa, nos contratos em negociação, na imagem pública que ainda está sendo construída com tanto esforço. Pensa se aquilo vai atrapalhar um projeto, se vai machucar alguém da família, se não seria melhor esperar. E muitas vezes a gente espera. Espera porque entende que fama não é escudo pra dor, que celebridade também sofre, também se desespera. Só que enquanto isso, o público, esse que confia na gente, espera também. E não é justo que espere demais.

Eu já me peguei várias vezes segurando uma informação, torcendo para que ela mesma se resolvesse antes que eu precisasse escrever. É um desejo quase infantil de que tudo fique bem e que a notícia simplesmente desapareça. Mas o jornalismo não é lugar de desejos, é lugar de escolhas. E quando a gente escolheu essa profissão, escolheu estar do lado da verdade, mesmo quando ela machuca. E, mais ainda, escolheu estar do lado do leitor, que merece saber o que está acontecendo, com respeito, com contexto, mas também com coragem.

Ser amigo de celebridade, para mim, nunca significou vender uma imagem perfeita. Significa cuidar da forma como a história é contada, com humanidade. A amizade continua, mesmo quando a notícia precisa sair. Porque quem é amigo de verdade entende que o nosso trabalho não é trair, é informar. Com ética, com escuta, e com a maturidade de quem sabe que o que nos une é maior do que qualquer manchete: é o respeito mútuo por quem somos, dentro e fora da mídia.

Então, se você é uma dessas celebridades que está lendo este texto agora e já me viu divulgar algo difícil sobre sua vida, saiba que não foi fácil. Mas foi necessário. E se você é leitor ou leitora fiel, saiba que tudo o que venho trazendo aqui vem sim, sendo filtrado pelo cuidado, mas sem nunca esconder o essencial. Porque no fim, o compromisso mais bonito que posso ter é com a verdade. Uma verdade que informa, que respeita e, sobretudo, que não esquece que por trás de cada nome famoso, há uma pessoa. E por trás de cada clique, há alguém que merece saber.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

LEIA MAIS

Pitbulls na linha de fogo: segurança ou preconceito legal?

O visto que não vê mais o brasileiro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *