Enquanto o telejornal evolui com eficiência, sustentabilidade e segurança, ainda tem gente com saudade do calhamaço e do improviso vendido ao teleprompter
É quase cômico ver que, em pleno 2025, ainda existe resistência, e até escárnio, diante do uso de tablets por jornalistas na bancada do telejornal. Para os críticos, o simples gesto de segurar um dispositivo virou sinônimo de artificialidade, dependência ou falta de espontaneidade. O que poucos percebem (ou fingem não perceber) é que o tablet, além de ecologicamente mais sensato, é uma ferramenta de precisão, segurança editorial e agilidade técnica. É o oposto do improviso: é o que garante que o jornalista esteja amparado caso o TP falhe. E acredite, ele falha, sim.
Ao contrário do que muitos pensam, nada no jornalismo televisivo é feito no susto. Cada frase lida no ar passou por revisão, checagem, edição e, na maioria das vezes, já está no roteiro antes mesmo do almoço. Quando um apresentador usa um tablet, ele está em contato direto com esse roteiro, podendo fazer correções de última hora, incluir alertas de última hora, recuperar contextos, datas e, principalmente, não depender exclusivamente do TP, que é o teleprompter, uma ferramenta útil, mas vulnerável. Quem já esteve numa redação sabe: quando o TP trava, ou você tem o texto, ou você tem o vexame. Além disso, com o tablet, você recebe atualizações em tempo real sem nenhum diretor gritando ao seu ouvido enquanto você fala.
Tecnicamente, o tablet resolve esse problema com discrição e eficiência. Diferente dos calhamaços de papel que muitos apresentadores seguravam no passado, e aqui cito, com todo respeito, os 32 anos de folhas empilhadas nas mãos de Faustão. O tablet reúne todas as informações necessárias sem gerar lixo, sem derrubar árvores, sem precisar de impressão a cada edição. Se os tablets estivessem disponíveis no auge da era do papel, o jornalismo teria poupado não só milhares de impressões, mas também tempo, logística e, sim, um impacto ambiental considerável.
É curioso observar que nunca houve, em décadas de calhamaço em cena, uma crítica contundente ao desperdício de papel na televisão. Não vi editorial algum lamentando o volume de folhas empilhadas em estúdios ou corredores de emissoras. Mas agora que um jornalista segura um tablet, silencioso, reciclável, durável e leve, surge uma crítica purista tecnológica, como se o jornalismo tivesse perdido sua alma ao abandonar o papel. Talvez o incômodo seja outro: talvez o problema real não seja o tablet, mas o fato de ele simbolizar uma era que alguns críticos têm medo de não acompanhar.
O tablet é o símbolo de um jornalismo que quer errar menos, improvisar menos, poupar mais e estar mais preparado para o imprevisto. Quem critica seu uso talvez nunca tenha precisado lidar com a pressão do ao vivo semanal em rede nacional. Ou pior ainda: não por charme vintage, mas por resistência à inteligência aplicada. O jornalismo evoluiu. Só não viu quem está olhando para o papel com saudade, medo, e não com responsabilidade.
