A falsa história sobre a suposta guinada editorial da Globo News, publicada pela Folha, não só distorceu fatos como expôs injustamente a jornalista Daniela Lima a ataques políticos e ameaças de morte. Um jornalismo irresponsável, que agiu como inimigo da própria categoria
A publicação de que a Globo teria feito uma pesquisa interna para medir a popularidade de seus jornalistas e concluído que o canal estaria “muito esquerdista” é, até agora, a maior fake news do ano na área jornalística. Mais grave que o erro é a sua consequência: a narrativa, sem base em fatos, ganhou velocidade na internet, foi repercutida por veículos e impulsionada por canais de direita, especialmente ligados ao bolsonarismo, transformando-se em arma para alimentar ressentimentos políticos contra a imprensa. O resultado: a jornalista vem sofrendo ameaças de morte pelas redes sociais.
No centro da farsa, a jornalista Daniela Lima acabou sendo colocada no banco dos réus da opinião pública. A mentira insinuou que sua saída da GloboNews teria sido motivada por supostas ideias progressistas, criando uma falsa justificativa para a movimentação profissional. A verdade é que a demissão não teve relação com ideologia política, e a distorção serviu apenas para reforçar um clima de hostilidade que fragiliza o exercício da profissão.
Internamente, a Globo recebeu com choque e indignação a repercussão da mentira. Profissionais da emissora enxergaram na situação um exemplo de como a má apuração e o sensacionalismo podem gerar danos irreversíveis à reputação de colegas e à credibilidade do jornalismo. Mais que um ataque a uma jornalista, o episódio é um ataque à própria noção de responsabilidade editorial.
O caso foi apelidado dentro da Globo entre os profissionais de imprensa de “mentira do ano” e já está sendo debatida dentro de algumas faculdades de jornalismo, onde alguns jornalistas conceituados do Globo dão aula. Na prática, um alerta na sala de aula sobre a escalada do uso político de boatos para atacar instituições e pessoas. Publicar irresponsavelmente, reforçar narrativas falsas e expor profissionais ao linchamento digital não é jornalismo: é cumplicidade com a desinformação. Nesse caso, o estrago foi grande e a lição, dura. Para o público, resta a importância de desconfiar de manchetes explosivas; para a imprensa, a obrigação de não se tornar o próprio motor da mentira, como a Folha de São Paulo fez.
