A maior briga do bolsonarismo agora é com o empresariado brasileiro

Após lobby para taxar o próprio país, família Bolsonaro rompe de vez com o empresariado e caminha para o isolamento, restando apenas os radicais na trincheira da lealdade cega e suicida.

A política externa bolsonarista sempre teve um traço marcante: o personalismo ideológico acima do pragmatismo comercial. Agora, com Donald Trump ventilando uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, esse estilo volta a cobrar um preço alto: não apenas em dólares, mas em capital político. Agora, se vê ameaçado por aquele que era considerado o “grande amigo” do clã Bolsonaro. O resultado? Desconfiança no mercado e revolta nos bastidores do empresariado.

Enquanto os empresários brasileiros assistem atônitos à ameaça de um colapso comercial com os Estados Unidos, segundo maior parceiro do Brasil, com mais de R$ 66 bilhões em exportações em 2023, segundo o Ministério do Desenvolvimento, a família Bolsonaro reage com com retórica de rede social. Nenhum plano, nenhum recuo estratégico, nenhuma sinalização real de defesa da indústria ou do agro. A diplomacia é feita no Instagram, enquanto o setor produtivo perde o sono com a possibilidade de perder acesso a um dos mercados mais exigentes e rentáveis do mundo.

É curioso e revelador que a ala bolsonarista mais radical mantenha sua fidelidade cega a Trump mesmo quando ele ameaça diretamente os interesses econômicos do país. Isso expõe uma lógica que já não convence nem os antigos aliados: para o bolsonarismo, a guerra cultural vale mais que o emprego do trabalhador da fábrica de celulose no Paraná, do produtor de laranja no interior paulista ou do frigorífico no Mato Grosso. Empresários que antes viam no ex-presidente um defensor da “liberdade econômica” agora assistem, constrangidos, à ruína do pragmatismo.

O empresariado começa, então, a perceber que o isolamento promovido pelo bolsonarismo não é só simbólico: ele é caro, real e pode afetar diretamente o PIB, o emprego e o consumo interno. A verdade é que a família Bolsonaro, ao transformar a política em ringue de lealdades ideológicas, perdeu o timing da economia. Agora, resta saber se o setor produtivo, que tantas vezes bancou e endossou esse projeto, vai continuar aceitando pagar a conta ou se, finalmente, vai começar a exigir racionalidade, diplomacia e responsabilidade de quem se propõe a representar o Brasil diante do mundo.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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One thought on “A maior briga do bolsonarismo agora é com o empresariado brasileiro

  1. Bsom dia Lo.Bianco, são 6.36am e estou tendo acesso pela primeira vez ao seu site e suas matérias e opiniões na íntegra. Sempre lhe admirei no A TARDE É SUA.SUA GENTILEZA, RESPONSABILIDADE COM AS PALAVRAS,AS NOTÍCIAS, O RESPEITO PELOS NOTICIADOS E PÚBLICO SÃO NOTÓRIOS, IMPOSSÍVEIS DE NÃO ADMIRAR.Indo mais profundamente nos seus textos, onde expõe seus sentimentos, suas opiniões, extremamente responsáveis e contextualizadas,consigo lhe admirar ainda mais, não somente o homem culto,estudioso, ser humano incrível que és, mas,sobretudo o excelente jornalista, que não se disassocia do humano . Parabéns, sou sua fã, a cada dia,ansiosa por aprender mais de você. Obrigada ❤️

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