A direita brasileira é só o Bolsonarismo?

O campo conservador no Brasil acabou, querendo ou não, taxado como traidor por causa da família Bolsonaro. Mas é hora de perguntar: há vida além do Bolsonarismo na direita nacional?

Desde a redemocratização, a direita brasileira experimentou uma fragmentação ideológica marcada pela ausência de um discurso próprio e estruturado. Ao longo das décadas, partidos de centro-direita como o PSDB tentaram se equilibrar entre agendas liberais na economia e uma certa moderação nos costumes. No entanto, foi com a ascensão de Jair Bolsonaro que uma nova configuração se impôs, apresentando-se como a única alternativa possível à esquerda. Isso nos leva a uma questão fundamental: será que a direita brasileira se resume, hoje, ao bolsonarismo?

O bolsonarismo conseguiu capitalizar sentimentos difusos de antipetismo, insegurança econômica e desconfiança nas instituições. Mas, ao contrário de correntes conservadoras clássicas, como existe na Inglaterra, não apresentou um projeto orgânico de país. Seu principal trunfo foi a retórica antissistema e o culto à figura do líder, elementos que mais se aproximam de movimentos autoritários do século XX do que de uma direita liberal ou conservadora no sentido tradicional. O discurso se tornou tóxico, radicalizado por ódio e reativo, e não propositivo.

Faltará, agora, à direita brasileira, uma plataforma que se sustente sem depender da mitologia em torno de Bolsonaro? Onde estão os intelectuais conservadores que defendam valores republicanos, instituições sólidas e políticas públicas consistentes sem recorrer à guerra cultural? Onde está a articulação política de um liberalismo que não se renda ao populismo? A ausência de alternativas indica um empobrecimento do debate público e um vácuo perigoso na representação de parte significativa do eleitorado.

Se o Brasil que não simpatiza com a esquerda deseja continuar a fazer parte de uma democracia, precisa fomentar um campo conservador que saiba dialogar com o país real agora sem ceder ao extremismo. A direita precisa se reinventar e isso significa ir além de Bolsonaro. Caso contrário, estará condenada à carregar para sempre a taxa nas costas, além da repetição de um projeto personalista e conflituoso, incapaz de construir pontes ou governar com estabilidade. É preciso que os conservadores voltem à realidade para lembrar que existe muito mais à direita. E o principal: conservadorismo não é sinônimo de autoritarismo.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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