Se a defesa vem de MC Pipoquinha, não é bem um álibi… Talvez uma confissão
O Brasil acordou de ressaca moral. Aquele momento em que a névoa se dissipa e a gente finalmente enxerga, com nitidez quase cruel, quem é quem na história. Hytalo Santos, outrora apenas mais um nome ecoando nas timelines, agora é um caso de polícia com direito a grade de ferro e ficha no sistema. E foi justamente nessa hora que surgiu uma reviravolta que, confesso, nem o mais criativo roteirista ousaria escrever: MC Pipoquinha, essa musa da polêmica, veio a público para declarar que Hytalo é “íntegro e honesto”. É como receber uma carta de recomendação assinada pelo próprio escândalo.
Agradeço sinceramente a MC Pipoquinha por esse gesto de transparência involuntária. Em tempos de desinformação, ela nos presta um serviço raro: confirma, com a segurança de quem não se dá conta, que a polícia está no rumo certo. Afinal, existem alianças que dizem mais sobre a natureza de uma pessoa do que qualquer sentença judicial. Se a defesa vem de quem tem a biografia moldada a manchetes de caos e irreverência, podemos concluir que a sintonia não é coincidência, é afinidade eletiva, e das mais precisas.
Claro, há quem argumente que cada um tem direito de opinar, e que lealdade é uma virtude. Concordo. Mas virtude não se mede pelo tamanho da lealdade, e sim pela direção para onde ela aponta. Defender um amigo não é problema; o problema é quando essa defesa só reforça, de forma quase cômica, o retrato de quem está no banco errado da história. É como se alguém resolvesse salvar um incêndio com gasolina e ainda achasse que o cheiro de fumaça é perfume.
Há um certo fascínio antropológico nessa cena. MC Pipoquinha não está apenas defendendo Hytalo, ela está, sem perceber, pintando o retrato completo da narrativa. Em sua fala, temos a assinatura que faltava no atestado de que tudo, absolutamente tudo, está no lugar certo: o acusado atrás das grades, a opinião pública perplexa, e a defesa saindo da boca mais provável possível. Se fosse novela, a gente chamaria de ironia do destino. Como é vida real, chamamos de sintonia perfeita.
E assim, resta-nos agradecer, com toda a ironia possível, à nova advogada de causas perdidas. Obrigado, MC Pipoquinha, por colocar o carimbo final na percepção nacional. Sua defesa, longe de ser um álibi, é um atestado de que o trabalho da polícia foi feito com rigor cirúrgico. Afinal, se ser defendido por você é um mérito, ser preso logo depois é quase uma condecoração.
