Trumpistas tropicais: a revolta!

Enquanto cresce cada vez mais nas ruas protestos do povo americano contra Trump nos Estados Unidos, grupos de brasileiros vão às ruas exaltar presidente dos EUA

A cena em Belo Horizonte foi a mais emblemática. Um repórter abordou uma dezena de pessoas que com a placa “Trump, contamos com você”. Mas quer saber? Das 13 pessoas, apenas uma conseguiu contar em inglês os números a partir do dez, ops, do ten. E eu fiquei pensando: tem coisa que é tão inacreditável que parece esquete do “Porta dos Fundos”. Enquanto nos Estados Unidos multidões protestam nas ruas contra Donald Trump, basta dar um google com vídeos aos montes, sim, aqui no Brasil, um grupo animado resolveu se reunir em praça pública para declarar apoio a um homem que mal sabe apontar o Brasil no mapa. É a rebelião da turma que acha que Miami é capital cultural e que, se gritar “Make America Great Again” alto o bastante, ganha green card por osmose.

A cena é tragicômica: brasileiros de camiseta do Brasil, bandeira dos EUA nas costas, fazendo discursos inflamados sobre “liberdade” e “valores cristãos”, como se Trump fosse uma espécie de apóstolo perdido da Bíblia de Genebra. Enquanto o próprio americano médio revirava os olhos e batia panela (ou rifle, nunca se sabe) contra o ex-presidente, os nossos manifestantes tropicais pareciam convencidos de que estavam salvando o Ocidente com uma folha sulfite e canetinha hidrocor.

Fico imaginando o gringo vendo isso: “Wait… are these guys… protesting in favor of Trump? From Brazil?” Deve ser o mesmo choque cultural de ver alguém torcendo pro Vasco num jogo da terceira divisão do campeonato escocês. E com a mesma relevância política. A diferença é que o torcedor do Vasco ao menos sabe o nome dos jogadores. Já os fãs de Trump no Brasil repetem slogans em inglês sem saber se “indicted” é nome de suplemento ou de doença.

Em Belo Horizonte, por exemplo, as plaquinhas diziam: “Trump, contamos com você”. Pois bem: one, two, three, pronto. Contaram. Só não passou do ‘ten’, como um repórter mostrou pelas redes sociais bastante constrangido. Agora podem guardar os cartazes, desligar o megafone e voltar pro YouTube do Olavo de Carvalho. Quem sabe lá descubram o que é voto distrital misto. Ou pelo menos que depois do ten, vem o eleven.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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