Entre o cachorro-quente com purê e o salsichão com farofa nas festas Juninas do Rio, sou a favor de um tratado comercial
Cheguei em São Paulo com o apetite de quem está pronto para descobrir novos mundos. Foi só seguir o cheiro bom da rua e parar num carrinho de cachorro-quente. Quando abri o pão… purê de batata! Alow! A princípio, um susto. No Rio, purê no cachorro-quente é quase um sacrilégio. Mas bastou uma mordida para eu entender: há sabedoria nesse carboidrato. O purê segura tudo, dá textura e conforto. Acreditem, funcionou. E funcionou bem.
Mas a justiça poética da vida viria em junho. Fui, empolgado, celebrar os festejos juninos e, logo na primeira barraca, pedi meu clássico de infância: salsichão com farofa. A atendente riu. Riu mesmo. Como quem ouve uma receita inventada. Em São Paulo, a salsicha existe, mas o salsichão com farofa ficou lá no Rio. Me vi ali, estrangeiro na própria festa, sentindo falta de um ingrediente simples que, pra mim, faz toda diferença.
Foi aí que pensei: e se Rio e São Paulo sentassem para negociar? Nada de rivalidade, minha proposta é diplomática: um tratado de livre comércio gastronômico. O Rio exporta o salsichão com farofa. São Paulo manda o cachorro-quente com purê. Uma integração culinária que, tenho certeza, agradaria a gregos, troianos, cariocas e paulistanos. Imaginem só as possibilidades: um combo com sotaque, tradição e afeto.
O mais bonito de tudo é perceber que, quando a gente experimenta com o coração aberto, descobre que cada cidade guarda seu tempero único, e também espaço para os sabores do outro. Tenho sido muito bem acolhido em São Paulo. E levo no peito o Rio que me ensinou a pedir farofa com orgulho. Talvez esse seja o segredo: misturar, provar, rir e, de vez em quando, propor uma diplomacia bem-humorada entre pães, purês e tradições.
