Márcia Sensitiva sentiu arrepio em Brasília, Temer fugiu do Alvorada e Itamar pediu aval do além. Mas a verdade é que o maior susto ainda são os vivos.
Brasília segue firme como o epicentro das maiores decisões da República e, aparentemente, também das maiores manifestações do além. Na última semana, a clarividente, sensitiva, numeróloga, médium e astróloga Márcia Sensitiva esteve na capital para a palestra “Acorda pra Vida” e saiu de lá um tanto assustada. Disse que Brasília está cheia de encostos e que visitou um lugar “de arrepiar”, mas preferiu não revelar qual. Sabendo o que se passa por lá em plena luz do dia, nem precisa. Márcia só confirmou o que a gente já suspeitava: o plano espiritual é só mais um entre os poderes da República.
E se engana quem acha que é só Márcia quem anda se benzendo na Esplanada. Michel Temer, sempre um homem das leis e dos silêncios, revelou que simplesmente “não conseguiu dormir” no Palácio da Alvorada. Sentiu uma “coisa estranha” por lá e preferiu voltar para o Jaburu, casa dos vices. Em conversa com Joesley Batista, aquela, sim, de arrepiar, confessou: “Deve ter fantasma lá”. O empresário, sempre direto, mandou na lata: “Como é que a Dilma aguentava ficar sozinha lá?”. Resposta: talvez os fantasmas tenham mais educação que alguns colegas do Congresso.
Itamar Franco, sempre dado a um bom paletó branco e a um bom pressentimento, também hesitou em se mudar para o Alvorada. Achou melhor esperar seis meses e só topou entrar depois de receber uma bênção espiritual de Sarah Kubitschek, primeira-dama original do local. Um ex-presidente que só toma posse do palácio com o aval da falecida esposa de Juscelino é, no mínimo, um homem de cautela, ou de sensibilidade extrassensorial mais apurada.
Mas sejamos francos: entre fantasmas que puxam o lençol de madrugada e vivos que puxam emendas secretas para debaixo do orçamento, o Brasil está mais ameaçado pelos que respiram. Se os fantasmas do Alvorada realmente existem, devem estar fazendo terapia ectoplasmática desde 2016, tentando lidar com tudo o que já ouviram pelos corredores. Temer, Itamar e Márcia podem ter sentido uma presença estranha, mas quem já leu um relatório da CPI da Covid sabe que há coisas bem mais arrepiantes em Brasília.
No fim das contas, o susto maior da capital federal não é ver uma alma penada de vestido branco surgindo na curva do Congresso. É ver quem chega lá com um sorriso no rosto e uma PEC debaixo do braço. Porque espírito a gente reza e acende vela. Agora, pra alguns políticos que vagam por Brasília de dia, de terno, e com CPF ativo, nem o sal grosso dá conta.
