Cabaré impõe taxa no gringo e revoluciona o mercado da carne fraca

Em meio a farpas comerciais, dona do “empreendimento” dá lição de economia: gringo paga dobrado pelo vuco-vuco

Não precisa esperar a conclusão sobre a Lei de Reciprocidade ou aguardar até o primeiro dia de agosto, a gerente do cabaré meteu 50% de taxa em cima de um americano só porque ele era americano. Sim, leitor, a taxação chegou ao mercado da prostituição e, convenhamos, demorou! Se os EUA querem sobretaxar aço e alumínio brasileiro, nada mais justo que a gente sobretaxar o “consumo interno bruto”. É o que chamamos de equilíbrio diplomático: você me taxa o minério, eu te taxo a felicidade.

A notícia viralizou: o gringo foi cobrar explicações sobre o preço e ouviu um sonoro “você é americano, amor, o valor é outro”. O cabaré virou G20 e o quarto privativo, uma conferência bilateral. As profissionais do sexo, sempre à frente do nosso tempo, estão apenas corrigindo um desequilíbrio histórico: há décadas eles vêm ao Brasil em busca de calor humano e um “custo-benefício afetivo” que não encontram em Washignton.

A economia criativa agradece. A medida abre espaço pra uma nova frente de exportação: turismo erótico com tarifa regulada. O Ministério da Fazenda, inclusive, poderia estudar o modelo e aplicar ao resto do país. Imagina só: açaí com taxa flutuante pra australiano, caipirinha com IOF sensorial pra sueco, e acesso ao bloco de Carnaval com sobretaxa emocional pra canadense que disser “Rio é perigoso, mas exótico”. O futuro do PIB pode estar no pole dance.

O caso levanta também um ponto sensível: o gringo quer o que não tem lá fora: toque, calor, samba, cheiro de protetor solar misturado com suor. O Brasil, nesse sentido, virou a Disneylândia dos afetos desregulados. Eles vêm buscando o que o capitalismo deles não entrega, e a gente, com toda a nossa malemolência tributária, começa agora a cobrar não só em reais, mas em autoestima nacional. O real valorizado é aquele que se deita com dignidade.

A gerente do cabaré deu uma aula de macroeconomia com microvestido. E se o mundo seguir o exemplo dela, talvez a próxima cúpula do clima aconteça num quarto 203, com espelho no teto, onde diplomatas negociem tarifas ao som de Anitta e com drinks fluorescentes. Por ora, fica o aviso: gringo que quiser brincar nas areias de Copacabana, prepare-se. A partir de agora, até o “Oh, girl, Nice!” vem com imposto embutido.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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