Antes dos algoritmos que alimentam o ódio, existiam os grupos que alimentavam conexões. E foi num deles que nasceu a história mais bonita da minha vida, chamada Valentina
Nos últimos dias, a volta do Orkut se tornou manchete em praticamente todos os sites e redes. O criador da rede social mais amada anunciou a reativação da plataforma, e, com isso, veio à tona um sentimento que já estava adormecido em muitos de nós: a saudade de uma internet mais afetiva, mais coletiva e muito menos tóxica. Ao ver essa notícia, fui imediatamente levado para outro tempo; um tempo em que a internet era menos sobre “likes” e mais sobre encontros. Foi numa dessas comunidades do Orkut que conheci a mãe da minha filha, na comunidade da banda Los Hermanos. Daí a nossa filha, a Valentina. E foi ali que começou a história mais linda da minha vida.
O Orkut não era uma rede perfeita mas ela foi, por um tempo, profundamente humana. Isso porque as relações eram organizadas não por bolhas invisíveis criadas por algoritmos, mas por interesses assumidos: música, cinema, religião, sexualidade, política. As pessoas se reuniam em comunidades que declaravam paixões e inquietações. Era possível debater, rir, aprender. E, sobretudo, pertencer. A estrutura de grupos favorecia o compartilhamento por afinidade. Havia afeto, havia escuta. E, curiosamente, não havia o ódio sistemático que hoje parece ser a espinha dorsal de tantas plataformas.
As redes sociais que vieram depois transformaram o compartilhamento em performance individual. Os grupos viraram timelines, e as conversas viraram postagens que competem por atenção. Likes substituíram vínculos. O algoritmo, com sua lógica capitalista, aprendeu rápido que o ódio gera engajamento, e passou a alimentar justamente isso. Onde antes havia comunidades, hoje há cancelamentos. Onde havia pertencimento, agora há isolamento digital. Cada um falando sozinho para sua própria bolha.
É por isso que a volta do Orkut, mais do que uma nostalgia estética, pode representar um desejo coletivo de retorno à convivência digital com sentido. Talvez seja o momento de resgatar a internet como espaço público de construção de vínculos, e não apenas como vitrine de egos. Uma rede em que grupos não sejam espaços de radicalização, mas de encontro. Em que o afeto e o interesse em comum voltem a ser mais importantes do que a monetização do conflito.
Tomara que o novo Orkut traga de volta essa ideia tão simples e tão revolucionária: a de que compartilhar é mais do que publicar. É pertencer. É se reconhecer no outro. E que, quem sabe, entre tantas novas conexões, outras Valentinas possam nascer, como lembrança viva de que a internet pode, sim, ser o começo das histórias mais bonitas da nossa vida.
