Do viagra nos quarteis para o chopinho do Congresso: o povo não quer pagar essa conta!

Quando o gasto é público, a conta é nossa. E o brasileiro não aguenta mais bancar o lazer que ele mesmo não tem.

É difícil explicar para um pai de família, que raciona carne no fim do mês, que o dinheiro dos seus impostos pode estar bancando o chopinho de alguém eleito para representá-lo. E não se trata de metáfora: parlamentares brasileiros, frequentemente, utilizam os mecanismos de reembolso para justificar gastos que vão de almoços generosos a cafés em restaurantes caros, muitas vezes, sem nenhuma transparência sobre sua real finalidade. Em tempos de orçamento apertado, cada centavo desperdiçado ganha o peso de uma afronta.

O sistema de reembolsos deveria ser um instrumento de apoio à atuação parlamentar, mas virou uma avenida larga para o uso nebuloso do dinheiro público. É difícil fiscalizar, quase impossível contestar. No geral, essa vigilância vem da imprensa. A cada nova reportagem sobre gastos indevidos, um velho sentimento volta à tona: de que a classe política vive numa bolha de privilégios que ignora a realidade do cidadão comum. E o mais grave: quando o uso é “oficialmente justificado”, ainda assim há limites claros que são ignorados, entre eles, o simples fato de que bebida alcoólica não deveria ser paga com verba pública, até onde vai meu leigo entendimento. Senão legal, moral.

Mas, no final, não se trata de moralismo. Trata-se de justiça. Político deveria ter esse direito? A lógica é simples: o que é público é de todos e, por isso, deve ser tratado com ainda mais responsabilidade do que o que é privado. O brasileiro não está mais disposto a sustentar luxos que ele próprio não pode usufruir. Não há almoço grátis, muito menos uma garrafa de vinho, e o povo está cansado de pagar a conta do que ele mesmo não tem.

É preciso lembrar: a confiança nas instituições se constrói com pequenos gestos, e também se destrói com eles. Cada nota fiscal encoberta, cada gasto sem justificativa razoável, contribui para a erosão de algo que o Brasil luta há anos para consolidar: a transparência e a ética no trato da coisa pública. E o estrago não é apenas financeiro. É simbólico. É emocional. Dói ver que, enquanto milhões vivem com o básico, há quem ainda ache aceitável brindar às custas de quem mal consegue pôr comida na mesa.

O povo brasileiro já paga caro demais. Paga impostos altos, enfrenta serviços precários e ainda precisa lidar com um deboche informacional que gera uma revolta ainda mais. Que cada um arque com o seu Chopinho, porque o brasileiro já tem contas demais para pagar.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

LEIA MAIS

No jornalismo de celebridades, seus maiores haters serão outros jornalistas

Patriotismo pede passaporte: a contradição em tentar importar interferência estrangeira

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *