No jornalismo de celebridades, seus maiores haters serão outros jornalistas

Quando os bastidores da notícia são mais tóxicos do que o próprio mundo que se cobre

Desde que comecei a trabalhar com televisão e a mergulhar no universo do jornalismo de celebridades, aprendi, talvez cedo demais, que os maiores desafios da profissão nem sempre vêm do público. Diferente do que muitos imaginam, o hate mais difícil de enfrentar nem sempre vem de fora. No nosso meio, muitas vezes, o maior inimigo é um colega de ofício. Um outro jornalista que, em vez de reconhecer o trabalho alheio, prefere descredibilizar, desmentir ou atacar quem ousa publicar algo que ele mesmo não teve coragem, fontes ou timing para noticiar.

Lembro com clareza de quando minhas primeiras pautas começaram a ganhar visibilidade. Eram notícias até então consideradas improváveis, algumas até ridicularizadas por colegas da área, mas que, com o tempo, se confirmavam. E foi justamente aí que os ataques começaram a mudar de forma. Se antes eu era alvo de estranhamento pelas pautas “impossíveis”, passei a ser atacado pela confirmação das mesmas. A lógica se inverteu: já não era mais sobre o conteúdo da notícia, mas sobre o incômodo causado por quem teve acesso à informação primeiro.

É um padrão que se repete. Quando a informação ainda está crua, muitos preferem zombar, desmentir ou fazer parecer que é invenção. Mas basta o tempo fazer seu trabalho para que esses mesmos colegas corram para colocar suas “velinhas no bolo” que ajudaram a queimar antes de assar. E não é coincidência. Muitas dessas atitudes nascem da frustração de não terem tido a apuração, a confiança da fonte, ou simplesmente a coragem de publicar algo em primeira mão. Ou pior: por serem familiares ou amigos das celebridades envolvidas na apuração.

O mais curioso, e triste, é perceber que esse tipo de comportamento é quase exclusivo do jornalismo de celebridades. Não se vê essa rivalidade tóxica em outras editorias. Talvez porque, nesse meio, muitos jornalistas acabam se confundindo com as próprias celebridades que cobrem. Passam a agir como personagens do entretenimento, e não mais como profissionais da notícia. E é aí que a vaidade suplanta a ética, que o ego fala mais alto do que o compromisso com a informação. E isso tem sido recorrente, principalmente, com os colunistas mais velhos, e alguns novos, que puxam o saco dos mais velhos, que têm se mordido numa insegurança como nunca visto antes. A saída: ganhar budget em cima da notícia daquele mais novinho, visto como uma ameaça rival.

Por isso, esse texto é quase um desabafo. Um pedido de empatia, especialmente do público, que muitas vezes não imagina o quão desgastante pode ser trabalhar com notícia num ambiente onde o coleguismo é sabotado por disputas de ego. A dor de ter um hater é algo com que todo comunicador já aprendeu a lidar. Mas ter um hater que veste o mesmo crachá de jornalista, que fala a mesma língua da apuração, e que, muitas vezes, sabe exatamente o que você enfrentou para chegar àquela informação… essa dor é mais difícil de engolir. E, infelizmente, ela é real e tem endereço certo.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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