Parlamentar surge de forma patética se vendendo como guru da conciliação nacional, esquecendo que já foi maestro da desarmonia brasileira
Há quem acredite em renascimento político, mas Aécio Neves parece confundir Fênix com pomba da paz. Do nada, ressurge da tumba no palco nacional com ar messiânico, distribuindo conselhos sobre o que o Brasil deve sacrificar pela conciliação. O problema é que, quando o assunto é pacificação, sua biografia é mais próxima de Nero do que de Gandhi.
Basta lembrar: Dilma mal havia tirado o plástico da cadeira presidencial quando Aécio, derrotado nas urnas, resolveu inaugurar uma nova modalidade: entrar no congresso no ombro dos seus aliados como se estivesse eleito pelo povo. Resultado: “congresso obstruído”. Com disciplina de maratonista, liderou o boicote, travou votações e decretou que a presidente ‘não trabalharia’ enquanto ele estivesse por ali. Era o “novo” nascendo de birra, com direito a carimbo histórico: um dos embriões da polarização que o país tanto sofreu depois.
E agora, veja só: o mesmo Aécio que transformou o parlamento em barricada de playground quer ensinar ao povo o valor da paz. É como se o inventor da buzina passasse a dar palestras sobre silêncio, ou como se um piromaníaco fosse contratado como instrutor de brigada de incêndio. É tão verossímil quanto colocar um velociraptor para dar aula de veganismo.
O tom de guru conciliador cai-lhe tão mal que beira a paródia. Ao posar de moderado, Aécio nos oferece uma comédia involuntária: o homem que contribuiu para incendiar o país agora sugere que todos assopremos as cinzas com calma. É como se dissesse: “Sim, eu ajudei a quebrar a louça, mas não se preocupem, agora posso ensinar como colar com Super Bonder”.
Resta ao público rir. Porque a moral do “novo pacificador” lembra aquelas peças de teatro político em que o vilão, no último ato, veste uma túnica branca e tenta convencer a plateia de que sempre foi monge. Só que o público, que não nasceu ontem, lembra bem quem apagou a luz do congresso em 2015. E sabe que, nesse enredo, Aécio pode até se oferecer como pacificador, mas continuará soando mais como piada do que como profeta.
