Carla Zambelli: corrida de última hora para Itália

Medo de alguns parlamentares acerca de uma suposta delação pode ter gritado mais alto do que a saudade da amiga, que estava abandonada até a informação viralizar

Bastou a Joyce soltar no ar que Carla Zambelli estaria cogitando uma delação premiada que, de repente, Flávio Bolsonaro, Eduardo Girão, Magno Malta e Damares Alves lembraram que tinham uma amiga esquecida na prisão de Rebibbia, em Roma. Coincidência? Só se for a coincidência mais rápida da história da aviação: mal saiu a notícia, os quatro já estavam no check-in do primeiro voo para a Itália, com cara de quem vai visitar parente no hospital, mas coração de quem teme virar personagem da próxima delação.

O mais engraçado é que até ontem ninguém tinha dado um pio mais enfático sobre a solidão da deputada em terras italianas. Parecia que a estratégia era deixar Carla no estilo “esqueceram de mim”, versão prisão. Aproximação com Bolsonaro antes de ser presa, nem pensar. A ruptura já era antiga. Mas foi só a palavra “delação” ser mencionada que o grupo descobriu a urgência da amizade e até a importância da visita pastoral. Afinal, dizem que não existe fé maior do que a do político que sente a sombra da delação batendo na porta.

A cena, se não fosse trágica, daria um roteiro de comédia: quatro senadores brasileiros desembarcando em Roma, não para discutir acordos internacionais, mas para dar aquele “oi, sumida” para Zambelli. Imagino a fila na portaria do presídio, cada um tentando falar mais baixo, mas sem conseguir disfarçar o pânico nos olhos. O ar de “saudade sincera” quase competindo com a vontade de perguntar: “Carla, tá pensando em citar meu nome?”

O timing, claro, é a parte mais divertida dessa história. Porque se a tal delação fosse só um boato sem potencial, será que teríamos essa comitiva internacional de última hora? Ou será que a pressa em atravessar o Atlântico já entrega quem está com medo de aparecer nos capítulos inéditos desse roteiro? O silêncio constrangedor antes da visita, seguido de uma súbita peregrinação, é quase uma confissão não verbal.

No fim, a pergunta que fica é irresistível: será que esses parlamentares foram visitar Carla para dar apoio… ou para garantir que, caso ela fale, os nomes venham com o devido cuidado e carinho? Seja como for, se a política brasileira já era uma tragicomédia, agora entrou na fase internacional. E o presídio de Rebibbia nunca viu tanta visita de brasileiro com medo de virar citação.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

LEIA MAIS

 Golpe de drácula contra a Justiça

Você não sabe, mas o Brasil tem a ‘Trocano’

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *