Da colônia a 2025 : a luta contínua pela conquista da soberania continua mais viva do que nunca
A história do Brasil é marcada por um fio invisível que atravessa séculos: a necessidade constante de defender a própria soberania. De colônia explorada à nação independente, o país nunca teve o luxo de se acomodar diante de ameaças externas ou internas. Repetidamente, o Brasil foi colocado à prova, precisando reafirmar sua autonomia diante de forças que tentaram reduzi-lo a território submisso ou massa de manobra. Principalmente dos EUA.
A primeira dessas vezes está inscrita na própria independência, em 1822. Mais do que o grito às margens do Ipiranga, foi a luta diplomática e política que sustentou a ruptura com Portugal. O país teve de afirmar que não era apenas uma extensão, mas uma nação disposta a gerir seus próprios destinos. Essa afirmação inaugural foi o ponto de partida para todas as outras batalhas.
Avançando para o início do século XX, outra demonstração veio na condução da chamada “política externa independente”. Em meio à Guerra Fria, o Brasil ensaiou dizer que não se deixaria aprisionar nem por Washington nem por Moscou. Foi uma forma de lembrar que nossa soberania não poderia ser reduzida ao jogo de interesses de potências estrangeiras.
Nos anos 1970 e 1980, o Brasil reafirmou sua autonomia em áreas estratégicas, como a energia nuclear e a exploração de petróleo. Havia pressão internacional, havia tentativas de nos empurrar para a dependência tecnológica, mas o país insistiu em desenvolver competências próprias. Defender a soberania, aqui, foi dizer que o futuro energético não poderia ficar refém de vontades externas.
Na redemocratização, a soberania ganhou novo contorno: proteger a democracia como valor inegociável. O movimento das Diretas Já foi uma resposta à tutela militar e às tentativas de manter o país sob rédeas autoritárias. A soberania não era apenas bandeira geopolítica, mas também cidadã: um povo que exige escolher quem o governa.
Mais recentemente, essa luta se manifestou nas discussões sobre a Amazônia. Líderes estrangeiros passaram a tratar a floresta como patrimônio global, ignorando que ali vivem brasileiros e povos originários. Defender a soberania foi, nesse caso, afirmar que a Amazônia tem dono: ela é nossa responsabilidade, nossa riqueza, nosso desafio.
E agora, chegamos ao presente. Quando Eduardo Bolsonaro e Silas Malafaia ensaiam ameaças contra a institucionalidade brasileira, não é exagero dizer que a soberania novamente está em jogo. A soberania não se mede apenas nas fronteiras, mas também na integridade das instituições que garantem a democracia. Um país que se curva ao autoritarismo doméstico perde tanto quanto aquele que se dobra a pressões externas. Por isso, defender a soberania hoje significa não se calar diante da corrosão democrática travestida de discurso religioso ou familiar.
O Brasil já disse “não” muitas vezes na sua história, e é hora de repetir. Não ao desprezo pela democracia, não à captura da nação por interesses de grupos, não ao autoritarismo disfarçado de patriotismo. A soberania é sempre uma conquista frágil e renovável, e só se sustenta quando o povo reconhece que sua maior fronteira é, antes de tudo, a da própria dignidade.
