Ódio digital com ‘mimimi’

A invenção do pastor Silas Malafaia sobre perseguição religiosa tem nome: mentira. E das mais safadas

Nos últimos dias, tornou-se impossível ignorar o óbvio: Silas Malafaia estava no centro da mira. Não por pregar sua fé, não por conduzir seu rebanho, mas por utilizar o púlpito, físico e digital, como arma de hostilidade. Era mais do que previsível que suas declarações, bastante inflamadas e antidemocráticas contra a Justiça brasileira, ultrapassariam a fronteira da liberdade de expressão e tocariam o terreno delicado da incitação à violência, coação e tentativa de intimidar e obstruir o Judiciário brasileiro. Foi a primeira vez que eu vi um “pastor” ser consumido por tanto ódio e baixo nível.

Há quem tente mentir e fazer desse momento uma perseguição religiosa, como se a democracia brasileira tivesse algo contra a pluralidade de crenças. Não é o caso. O alvo não é a religião, mas a manipulação do sagrado para legitimar ataques às instituições. Um pastor não é a Igreja, nem tampouco uma fé pode ser reduzida a uma única voz. A investigação sobre Malafaia, portanto, é dirigida ao indivíduo e ao seu uso da retórica agressiva e intimidatória como instrumento político-partidário de corrosão democrática. Mas, diferente dos fiéis, a Justiça brasileira está longe de ter medo de Malafaia.

O que se vê nesse senhor descontrolado, principalmente nas redes sociais, é a transmutação do altar em palanque político, e do sermão em discurso de ódio. Ali, a Bíblia se torna pano de fundo para uma narrativa beligerante que não busca a paz, mas o conflito. E quando o microfone de um líder religioso ecoa para milhões de seguidores, cada palavra adquire peso de ordem, de convocação. O problema não é a religião em si, mas o uso da fé como munição para alimentar a polarização e ameaçar a própria ordem social e democrática.

A questão central é: até onde Malafaia pensou que poderia chegar com a política do medo? Escolheu tensionar, atacar e desafiar não apenas a Justiça, mas os próprios limites da convivência democrática. A consequência natural disso não poderia ser outra além do olhar atento das instituições. Já era para estar preso. Não há perseguição religiosa quando o perseguido é apenas uma única pessoa, quando a lei apenas cumpre seu papel diante de quem ultrapassa as fronteiras do aceitável. A liberdade de expressão que Malafaia finge se preocupar, na verdade é uma liberdade de agressão.

O silêncio diante desse tipo de conduta seria conivência. A investigação é, acima de tudo, um recado: liberdade religiosa jamais poderá ser confundida com licença para disseminar ódio e violência contra um magistrado da mais alta corte brasileira. Malafaia não responde como pastor, mas como cidadão que escolheu transformar sua fé em arma política. E nessa escolha, é ele, e apenas ele, quem deve arcar com as consequências.

Alessandro Lo-Bianco

Fui repórter da Editora Abril, O Dia, Jornal O Globo, Rádio CBN e produtor executivo dos telejornais da Record. Estou ao vivo na RedeTV!, como colunista de TV do programa “A Tarde é Sua”, com Sônia Abrão. Também sou colunista do portal IG (lobianco.ig.com.br). Tenho 11 livros publicados e 17 prêmios de Jornalismo.

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