Não há qualquer justificativa aceitável para violência empregada ‘de presente’ para o dia do ator. Não foi coincidência, foi sádico!
Não há qualquer justificativa aceitável para o que se viu em São Paulo. O confronto entre a Guarda Civil Metropolitana e o grupo de teatro Mungunzá não é um episódio isolado, mas parte de um padrão persistente de violência que caracteriza a forma de governar no estado. A truculência policial tem sido naturalizada como resposta imediata a conflitos sociais, transformando-se em política de Estado. Essa lógica do porrete substitui o diálogo, relega a mediação e produz um espetáculo de repressão que fere não apenas os corpos, mas também a própria ideia de democracia. É assim com os ambulantes, com os artistas de rua, e foi assim que a irmã de um rapaz que estava sendo revistado levou uma bala no meio da cara ‘acidentalmente’
Quando a autoridade se nega a negociar e opta por esmagar, estamos diante de um colapso político. A reintegração de posse não precisa ser necessariamente uma cena de guerra, mas a gestão de Tarcísio de Freitas insiste em transformar o espaço público em campo de batalha. Não se trata de manter a ordem, mas de sufocar a diferença. Em vez de agir como mediador, o poder público aparece como agressor, instaurando um regime de medo que expulsa qualquer possibilidade de cidadania.
A violência policial não é acidente, mas método. Cada cassetete erguido, cada spray de pimenta lançado, cada corpo jogado ao chão é resultado de uma política deliberada que escolhe o confronto como linguagem. O que falta para Tarcísio aprender que o uso da força desproporcional não é sinal de força, mas de fraqueza institucional. Um governo que precisa ferir para se afirmar já perdeu sua autoridade moral. A repressão não é controle; é a prova viva da incapacidade de governar sem recorrer ao medo.
Que essa violência tenha se voltado contra uma companhia de teatro, no Dia do Artista de Teatro, não é mero detalhe irônico: é símbolo. Foi datado! A cultura, que deveria ser protegida como espaço de encontro e pensamento crítico, passa a ser tratada como inimiga. Não se trata apenas da disputa por um imóvel, mas da tentativa de sufocar vozes que criam, que resistem, que oferecem à sociedade movimentos de oposição e vigilância cultural, outras narrativas além da do poder. A agressão à cultura é sempre uma agressão à democracia.
Independentemente da disputa jurídica, de quem estava formalmente certo ou errado, a violência invalida qualquer argumento. Quando o Estado escolhe a porrada em vez da palavra, rompe-se o pacto civilizatório. O excesso policial em São Paulo já matou, já mutilou, já traumatizou famílias inteiras. E agora invade também o espaço da arte. Isso não pode ser naturalizado, não pode ser relativizado. A violência desmorona a política, dissolve a legitimidade, transforma o governo em algoz. É preciso dizer basta. Porque quando o poder passa a agir como inimigo da sociedade, já não estamos diante de governo: estamos diante de repressão.
