O avião sempre sacudiu mais do que eu gostaria. Agora, vai aumentar? Esse medo sempre foi minha bagagem mais pesada. Julguem…
Há notícias que não apenas informam, mas acordam fantasmas. Saber que as turbulências nos céus vão se tornar mais frequentes é, para muitos, apenas uma curiosidade técnica. Para mim, é o eco de um temor antigo. E, embora digam que voar é seguro, meu coração sempre insistiu em sentir o contrário. Acho que é coisa de vidas passadas. O meu medo de avião não consegue ler estatísticas. Ele só sabe apertar o peito e lembrar que, em certos momentos, não temos o controle.
Mas a vida é generosa em nos mostrar que o céu não é o único lugar onde balança. Há dias em que o chão nos foge, em que a paisagem muda de repente, em que a rota que traçamos se dissolve diante dos olhos. E, nessas horas, não há manual de voo que nos garanta pouso suave. Só nos resta aprender a estar inteiros mesmo quando tudo ao redor está em movimento. E com dignidade.
O medo, então, deixa de ser um inimigo distante e passa a ser um companheiro de jornada. Não é questão de expulsá-lo, mas de aprender a viajar com ele. A coragem, talvez, não seja ausência de temor, mas a capacidade de olhar para ele e dizer: “Eu sigo, mesmo assim”. E é nesse instante que percebemos que, embora o corpo trema, a decisão de avançar é mais forte que qualquer ventania.
Existe um poder silencioso no ato de seguir adiante enquanto o coração pede para recuar. É como remar em mar aberto sem ter certeza se a tempestade vai passar. É confiar que, mesmo que a viagem não seja tranquila, ela ainda pode ser transformadora. Toda vez que eu entro em um avião, a sensação é que eu estou “pagando pra ver…” Cada passo dado dentro da aeronave, com medo, é um lembrete de que o medo não governa o nosso destino.
Assim… Eu já entendi, pelo menos, que não vou evitar por vontade própria que o monstrengo sacuda de vez em quando. Mas posso escolher, a duras penas, manter o olhar pela janela, mesmo quando as nuvens se fecham. Porque é ali, entre um sobressalto e outro, entre os altos e baixos de uma turbulência, que percebo como a vida vale à pena. De preferência com os pés no chão.
